O
presidente Jair Bolsonaro, caso fosse capaz de parar para pensar cinco minutos
no que é bom para ele e ruim para os seus inimigos, como fazem nove entre dez
pessoas que estão num cargo como o seu, tomaria a partir de zero hora dessa
quinta-feira a seguinte decisão: não abrir mais a boca para brigar com ninguém
até o dia 31 de dezembro de 2022. Com ninguém? Isso mesmo: com ninguém, homem
ou mulher, gente boa ou gente ruim, vivo ou morto. Mas e quando ele se sentir
injuriado, injustiçado, indignado – vai aguentar quieto, como se tivesse sangue
de barata? Isso mesmo, mais uma vez. Presidente da República não é um cidadão
como qualquer outro. Não interessa o tipo de sangue que tem – A, B, AB,
O-Universal ou de barata. O que interessa é que tem obrigações, responsabilidades
e compromissos nos quais não pode falhar. Um deles é não sair batendo boca com
ninguém.
Quem tem de
responder a críticas, discordâncias, agressões, ofensas ou seja lá o que for
não é Bolsonaro. É qualquer um – menos ele. O presidente tem muita gente para
fazer isso. Tem um Ministério inteirinho. Tem deputados, senadores e
governadores que jogam no seu time. Tem seus serviços de comunicação. Tem as
redes sociais. Tem, em suma, todo mundo que está a seu favor. Se vai ele mesmo
para o meio da rua e entra numa rixa atrás da outra, é porque quer e gosta de
fazer isso. E como presidente, Bolsonaro não tem o direito de querer e gostar
de baderna.
Esse atrito
permanente, além disso, é uma coisa que não faz sentido. De um lado, só
conforta as pessoas e as forças que mais o detestam. De outro, não o ajuda em
nada. Mas o “público interno”, os bolsonaristas devotos, não vibra quando ele
sai na mão com a mídia, a esquerda ou as figuras francamente detestáveis com
quem vive rolando no chão? Pode ser; sabe lá o que os seus gênios da
comunicação digital estão mandando que ele faça. Mas nessas horas Bolsonaro tem
de lembrar que não é presidente só dos que votaram nele, e sim de todos os 200
milhões de brasileiros. É sua obrigação, junto a eles, manter a compostura, e
não dar bananas.
Se ficasse
quieto até o final do seu governo, só falando como um chefe de Estado,
Bolsonaro iria tirar dos seus adversários a arma que mais gostam de usar –
talvez, até, nem tenham outra. Ninguém vai crescer em cima dele discutindo
pontos de doutrina socioeconômica, ou dizendo que é “fascista”, ou “misógino”,
ou coisas que a população nem sabe o que são. Mas adianta alguma coisa falar
isso? Não parece. Na porta por trás da qual deveriam estar as ideias de
Bolsonaro, a visita bate, bate, bate – e ninguém responde.

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