J. R.
Guzzo, O Estado de S.Paulo
É algo que
se pode ver todos os dias, em qualquer lugar. Muita gente que realmente não é
de esquerda neste país, que reprova de alto a baixo o complexo Lula-PT e,
sobretudo, que condena sem nenhuma hesitação as calamidades impostas ao Brasil
em seus 13 anos e meio de governo, decidiu que existe na política brasileira
algo tão ruim, ou ainda pior: a “direita”. Uma parte disso é direita mesmo, sem
aspas - milhões de cidadãos que têm valores, crenças e desejos opostos ao que
se considera o pensamento liberal. Outra parte é apenas contra Lula, o PT e os
seus agentes; depois da experiência que o País teve com eles, não querem nem
pensar na ideia de que possam voltar um dia. Mas também se pode juntar as duas
e chamar o conjunto de “governo Jair Bolsonaro”.
É esse,
hoje, o mais intratável problema que o Brasil do “equilíbrio”, como geralmente
gostam de se apresentar as pessoas descritas nas primeiras linhas, têm diante
de si. Não toleram o governo e quase nada do que ele pensa, faz ou representa.
Mas não sabem, na prática, o que fazer a respeito - não têm nem sequer uma
pista.
Há,
naturalmente, uma dificuldade de grosso calibre para os adversários e inimigos
do governo: toda a direita brasileira, em qualquer de suas modalidades
visíveis, é perfeitamente constitucional. Está autorizada por lei a pensar do
jeito que quiser, sem pedir licença a ninguém. Pode votar, e, se os seus
escolhidos ganharem, são eles que vão para o governo.
Também pode
manifestar-se livremente, em lugares fechados ou em praça pública - e não tem
nenhuma obrigação, quando se expressa, de defender apenas as causas aprovadas
pela média da moral política vigente.
Não é
possível, enfim, impedir que a direita exista, promova as causas que aprova e
tenha tanto direito a participar da vida pública do Brasil quanto qualquer
outra fatia da sociedade. Só há um jeito, em suma, de se lidar com ela:
derrotá-la em eleições livres.
É aí,
justamente, que está a mãe das complicações para muitas pessoas decentes que
defendem sinceramente as liberdades, a moderação e o progresso do Brasil. Em
vez de se apresentarem como uma alternativa racional e mais eficaz que o
governo Bolsonaro para manter o País livre de Lula e seus etcs., pretendem
travar sua disputa política contra a direita ficando, vejam só, parecidas com a
esquerda.
O que é que
adianta, então? Se é para concordar com o PT, muito obrigado: é melhor, então,
ficar com o artigo original logo de uma vez. Alguma coisa está muito errada
nisso tudo quando um banqueiro de investimentos milionário, e que se opõe ao
governo, diz que se sente “de esquerda”.
Imagina-se
que para ganhar eleições contra a direita é indispensável tirar votos que estão
na direita - ir buscar eleitores que votaram em Bolsonaro e possam estar, ou
tornar-se, desiludidos com ele. Afinal, eles são a maioria; é preciso lembrar,
de vez em quando, que o outro lado perdeu. Mas, não. Ficam falando em
distribuição de renda, igualdade, justiça e coisas assim. É a eterna busca pela
batalha perdida. Distribuição de renda? Mas o que adianta querer ganhar voto
com isso se tanto esquerda como direita juram que são a favor? É como defender
a luz elétrica.
Você já
ouviu alguém dizer: “Sou a favor de que haja uns poucos ricos e um monte de
pobres, e quero mais é que os pobres vão para o diabo que os carregue?” Claro
que não. Não é isso, portanto, que separa direita e esquerda. A diferença,
mesmo, é o que “distribuição de renda” significa na vida real para uma e para
outra - e, sobretudo, o que deve ser feito para se chegar a ela.
Vai
explicar isso para o banqueiro de esquerda.