Lucas
Gandolfe
A falta do
senso das proporções é exatamente o mesmo que falta de inteligência moral.
O Movimento
pela Ética na Política de 1992 nasceu de um grupo de pessoas, que se reunia na
UFRJ. Eram sindicalistas, universitários, militantes de partidos, pessoal das
ONGs e dos direitos humanos. Dando “nome aos bois”, tínhamos desde
ex-Presidente da OAB até Lula, Herbert de Souza (o Betinho), Marilena Chaui,
José Dirceu, Genoino, Frei Betto, tutti quanti. Mas quem realmente coordenou o
processo que culminou no impeachment de Fernando Collor foi o PT.
A “Campanha
pela Ética”, liderada pelo PT, dava a genérica impressão de estar lutando pela
“ética” no sentido geral e corrente, isto é, pelo bem e pela decência,
combatendo todo e qualquer elemento corrupto na administração pública,
firmando-se como paladino da honestidade nacional. As provas de corrupção no
governo de Fernando Collor, suscitando fartas demonstrações de indignação
moral, tornou a ficção do Movimento verossímil, permitindo que o moralismo atávico
dos brasileiros fosse imediatamente canalizado para o colo da esquerda.
Mas será
que o ilustre Partido dos Trabalhadores, cujos principais membros encontram-se
atualmente condenados pela Justiça por inúmeros crimes, estava mesmo defendendo
a “ética” relacionada à honestidade, moralidade, etc.? Evidentemente que não.
Eles defendiam o “Estado Ético”, nada mais, politizando a “ética” e colocando à
luta de classes acima do bem e do mal, o que, num futuro bem próximo,
inverteria totalmente aquilo que pregavam.
Bem, a
partir desse Movimento, o PT assumiu o papel de representante da probidade
pública e social, impulsionando cada vez mais a campanha pela “ética” e
“cidadania”, ascendendo, assim, à condição quase sacerdotal de condutor moral
da nação.
No fim,
toda a farsa da “ética” terminou por ser usada como instrumento para a “longa
viagem da esquerda - do PT, para dentro do aparelho de Estado”. Pois bem, e
depois? A ética foi finalmente implantada no Brasil, expurgando os “ratos que
roem nossa bandeira nacional” e vivemos felizes para sempre? Como desgraça
pouca é bobagem, descobrimos que, frente ao que estava porvir, o Brasil até que
era bem ético.
Desde
janeiro de 2003 a gestão petista e seus asseclas conviveram e apoiaram casos de
corrupção no Brasil, que, resumidamente, totalizam 4.880 dias de escândalos,
somando mais de R$ 47 bilhões. Da posse de Lula ao afastamento de Dilma, em
maio de 2016, os escândalos políticos e casos de corrupção sempre estiveram
presentes.
Logo nos
primeiros seis meses de gestão, o PT enfrentou a CPI do Banestado que envolvia
dinheiro enviado ilegalmente para paraísos fiscais. Na época, o deputado José
Mentor foi acusado de sabotar a CPI para proteger os petistas. Também em junho
de 2003 veio à tona o esquema de corrupção no DNIT (Departamento Nacional de
Infraestrutura e Transporte) com desvio de R$ 32,3 milhões de recursos
destinados à construção de estradas. O alvo das denúncias foi o ministro dos
Transportes, Anderson Adauto.
Ainda em
2003, agora em setembro, outro escândalo. A ministra de Lula na Secretaria de
Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, usou recursos públicos para
custear passagens e hospedagens para Argentina e Nova Iorque, em compromissos
pessoais. Ao todo, foram R$ 19 mil.
No início
de 2004 surgiram as primeiras evidências do esquema do mensalão, maior
escândalo do primeiro mandato de Lula. O mensalão era a propina que o governo
pagava, com dinheiro público, a parlamentares para votar a favor das propostas
petistas no Congresso. Segundo o STF, o articulador do mensalão foi José
Dirceu, ministro da Casa Civil de Lula.
Em 2005, no
mês de julho, tivemos outros grandes escândalos, agora envolvendo o ministro
Romero Jucá (Previdência) que fez empréstimos de R$ 18 milhões de bancos
públicos usando como garantia sete fazendas que não existiam. Na mesma época,
estourou o esquema de corrupção apurado na CPI dos Bingos, que detectou um
desvio superior a R$ 7 milhões de dinheiro público para políticos e
empresários.
Para
finalizar o primeiro mandato de Lula e da esquerda no poder, tivemos em 2006 o
caso de corrupção de Luis Gushiken, ministro de Comunicações, com respingos do
mensalão e também da CPI que investigou o desvio de R$ 11 milhões nos fundos de
pensões de funcionários públicos.
A cenoura
de burro das esperanças moralizantes da década de 90, que simulava “passar o
Brasil a limpo”, mostrou-se um verdadeiro “Cavalo de Tróia”, cuja única
preocupação era tomar o poder e fazer crescer o “Novo Príncipe” (ou o Partido,
para Antônio Gramsci) por todos os meios amorais, imorais, mentirosos, cínicos,
corruptos possíveis. Mas uma grande parcela do povo brasileiro resolveu
validar, pelo voto, todos os escândalos petistas, reelegendo Lula. O
inverossímil aconteceu!
Previsivelmente,
em 2007, Lula iniciou o seu segundo mandato, após a reeleição, com novas
suspeitas de corrupção. Na pasta do Trabalho, sob o comando do aliado Carlos
Lupi, foi descoberta uma fraude envolvendo ONGs e fundos destinados a programas
para desempregados que somaram R$ 18 milhões em desvios.
No ano de
2008, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, teve que deixar o cargo
depois que descobriram gastos indevidos com cartões corporativos do governo no
valor de R$ 171 mil. A denúncia levou a investigações de outras despesas
ilegais do alto escalão petista.
Para serem
beneficiadas com incentivos fiscais, em 2009, montadoras pagaram até R$ 36
milhões em propinas para o governo petista editar a medida provisória número
471. O esquema gerou um prejuízo de R$ 1,3 bilhões em impostos.
Bem, como
diz o ditado popular “errar uma vez é humano, duas é burrice, na terceira você
não tem vergonha na cara”. Mesmo frente aos escabrosos e contínuos escândalos
de corrupção, julgados ao vivo e a cores, com larga divulgação pelos meios de
comunicação, uma parcela de brasileiros manteve o PT no poder. Para mim, isso
não só significou validar o que passou, mas também, implicitamente, autorizar
sua continuidade.
E foi isso
que Dilma Rousseff fez. Em 2013, o líder do governo na Câmara, Arlindo
Chinaglia, foi acusado de envolvimento em fraudes de licitações que chegaram a
R$ 1 bilhão. O dinheiro foi enviado para empresas que financiaram a campanha do
PT. O final da história nós já conhecemos, a “Lava Jato” desnudou o rei petista
e mandou para a cadeia toda a companheirada, responsável pelo maior esquema de
corrupção e manutenção de poder da história brasileira, tornando-nos
oficialmente uma cleptocracia.
O PT
corrompeu com a autoridade moral de quem, ao arrogar-se os méritos de um futuro
hipotético, já está absolvido de todos os delitos do presente; roubou com a
tranquilidade e o destemor de quem pode usar licitamente de todos os meios, já
que é o senhor absoluto de todos os fins. É o Partido Ético, sempre exaltado e defendido
por uma parcela de brasileiros. A verdade se transformou em mentira e a mentira
em verdade.
O sucesso
da revolução cultural do PT foi tão avassalador que - mesmo cientes de toda
mentira, corrupção e imoralidade praticada pela esquerda -, a parcela de
brasileiros apoiadora dessa aberração política passa de sua cegueira voluntária
a sacerdote da “ética na política” para acusar e julgar seus opositores,
equiparando “rachadinhas” de gabinete com a corrupção da própria democracia e
implantação de uma hegemonia totalitária. Porca miséria!
