sexta-feira, 22 de maio de 2020

A CARTA DE TRUMP A THEDROS, DIRETOR GERAL DA OMS, MERECE ATENÇÃO, PRINCIPALMENTE PELOS DADOS EXPOSTOS


CASA BRANCA

WASHINGTON, DC

18 de maio de 2020

À sua excelência

Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus

Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Genebra, Suíça

Estimado Dr. Tedros:

Em 14 de abril de 2020, eu suspendi as contribuições dos Estados Unidos da América à Organização Mundial da Saúde enquanto meu governo investiga a falha da Organização em responder ao surto da COVID-19. Essa investigação confirma muitas das sérias preocupações que apontei mês passado e identificou outras que a OMS deveria ter se ocupado, especialmente com a alarmante falta de independência da Organização em relação à República Popular da China. Baseado nessa investigação, agora nós sabemos o seguinte:

A OMS ignorou consistentemente relatórios confiáveis do surto do vírus e Wuhan, no princípio de dezembro de 2019 – ou até antes disso, incluindo relatórios do jornal médico Lancet. A OMS falhou em investigar com independência relatórios confiáveis que conflitavam diretamente com a versão oficial do governo chinês, até aqueles que vinham de fontes da própria Wuhan.

Ainda em 30 de dezembro de 2019, o escritório da organização em Pequim sabia que havia uma grande preocupação de saúde pública em Wuhan. Entre 26 e 30 de dezembro, a imprensa da China destacou a evidência do surgimento de um novo vírus em Wuhan, baseando-se em dados de um paciente enviados a várias empresas chinesas que trabalham com genomas. Além disso, durante esse período, o Dr. Zhang Jixian – médico do Hospital Provincial de Medicina Chinesa e Ocidental, de Hubei – disse às autoridades médicas da China que um novo coronavírus estava causando uma nova doença que, àquela altura, afligia aproximadamente 180 pacientes.

No dia seguinte, autoridades taiwanesas repassaram à OMS informações que indicavam a transmissão entre seres humanos do novo vírus. Ainda assim, a Organização resolveu não compartilhar nenhumas dessas informações ao resto do mundo, provavelmente por razões políticas.

As Regulações Sanitárias Internacionais exigem dos países que informem o risco de uma emergência sanitária dentro do prazo de 24 horas. Mas a China não informou à OMS sobre os casos severos de pneumonia de origem desconhecida em Wuhan até 31 de dezembro de 2019, embora seja provável que tivessem conhecimento desses casos dias ou semanas antes.

De acordo com o Dr. Zhang Yongzhen, do Centro Clínico Público de Shanghai, ele próprio contou às autoridades chinesas, em cinco de janeiro de 2020, que havia sequenciado o genoma do vírus. Não havia publicação dessa informação senão seis dias depois, em onze de janeiro de 2020, quando o Dr. Zhang, de per si, postou a descoberta na internet. No dia seguinte, as autoridades chinesas interditaram seu laboratório para “retificações”. Até mesmo a OMS reconheceu a postagem do Dr. Zhang como um grande ato de “transparência”. Mas a Organização tem estado visivelmente calada tanto em relação ao fechamento do laboratório do Dr. Zhang como em relação à sua afirmação de que ele havia notificado as autoridades chinesas sobre sua descoberta seis dias antes.

A Organização Mundial da Saúde tem feito repetidas afirmações sobre o coronavírus que são grosseiramente imprecisas ou enganosas.

Em 14 de janeiro de 2020, a OMS gratuitamente reiterou a agora refutada tese da China de que o coronavírus não era transmissível entre seres humanos, afirmando que “investigações preliminares conduzidas pelas autoridades chinesas não encontraram evidências claras de uma transmissão entre seres humanos do novo coronavírus (2019-nCov) identificado em Wuhan, China”. Essa afirmação estrava em conflito direto com os relatórios censurados vindos de Wuhan.

Em 21 de janeiro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping supostamente pressionou você a não declarar o surto do coronavírus uma emergência. Você cedeu a essa pressão no dia seguinte e disse ao mundo que o coronavírus não configurava uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional. Apenas uma semana depois, em 30 de janeiro de 2020, evidências acachapantes indicando o contrário forçou-o a mudar de curso.

Em 28 de janeiro de 2020, após encontro com o presidente Xi em Pequim, você elogiou o governo chinês por sua “transparência” em relação ao coronavírus, anunciando que a China havia estabelecido um “novo padrão para o controle de surtos” e “deu tempo ao mundo”. Você não mencionou que a China tinha, àquela altura, silenciado ou punido diversos médicos por denunciarem o vírus nem mencionaram a restrição às instituições chinesas de publicar informações sobre ele.

Mesmo após tardiamente declarar o surto uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional em 30 de janeiro de 2020, você falhou em não pressionar a China pelo imediato acolhimento de uma equipe de especialistas em medicina da OMS. Como resultado, essa equipe emergencial não desembarcou na China senão duas semanas depois, em 16 de fevereiro de 2020. E mesmo então, a equipe não foi autorizada a visitar Wuhan até os dias finais de sua estada na China. Destaque-se que a OMS se calou quando a China negou a dois membros norte-americanos da equipe o pleno acesso a Wuhan.

Você, também, enalteceu as restrições que a China impôs sobre as viagens domésticas, mas, inexplicavelmente, foi contra o meu fechamento das fronteiros dos Estados Unidos, ou a proibição de ingresso, em relação às pessoas vindas da China. Eu estabeleci a proibição de ingresso independentemente do seu desejo. O seu jogo político nessa questão foi mortal, já que outros governantes, confiando nas suas recomendações, demoraram em impor restrições que teriam salvo vidas em relação a viagens para e da China. Inacreditavelmente, em três de fevereiro de 2020, você reiterou sua posição, opinando que, em razão de a China estar fazendo um grande trabalho protegendo o mundo do vírus, as restrições de viagens estavam “causando mais mal do que bem”. Ainda àquela altura o mundo soube que, antes de fechar a cidade de Wuhan, as autoridades chinesas permitiram que mais de cinco milhões de pessoas deixassem a cidade e muitas dessas pessoas embarcaram para diversos destinos internacionais ao redor do mundo.

Em 03 de fevereiro de 2020, a China estava pressionando países fortemente a suspender ou evitar restrições de viagem. Essa campanha de pressão foi impulsionada pelas afirmações incorretas que você fez naquele dia, dizendo ao mundo que a disseminação do vírus fora da China era “mínima e lenta” e que “as chances da disseminação fora da China [eram] bem pequenas”.

Em 03 de março de 2020, a OMS citou dados oficiais chineses para minimizar o seríssimo risco de disseminação assintomática, dizendo ao mundo que “a COVID19 não é tão transmissível como a influenza” e que, diferentemente da influenza, essa doença não era prioritariamente transmitida por “pessoas que estavam infectadas mas não estavam ainda doentes”. A evidência chinesa que a OMS trouxe ao mundo, “demonstrou que somente um por centro dos casos reportados não apresentam sintomas, e a maioria deles desenvolvem sintomas dentro de dois dias”. Muitos especialistas, entretanto, citando dados do Japão, da Coreia do Sul e de outros países, questionaram fortemente essas afirmações. Agora está claro que as afirmações da China, repetidas ao mundo pela OMS, estavam extremamente erradas.

Quando você finalmente declarou que havia uma pandemia do vírus, em onze de março de 2020, ele havia matado mais de quatro mil pessoas e infectado mais de cem mil pessoas em ao menos 114 países ao redor do mundo.

Em 11 de abril de 2020, diversos embaixadores africanos informaram ao Ministério de Relações Exteriores chinês a respeito do tratamento discriminatório dispensado a africanos com relação à pandemia em Guangzhou e outras cidades na China. Você estava ciente de que as autoridades chinesas estavam implementando uma campanha de quarentenas forçadas, despejos e negando serviços a cidadãos desses países. Você não comentou sobre as ações de discriminação racial por parte da China. Porém, sem base alguma, você rotulou como racistas as reclamações bem fundamentadas de Taiwan sobre a má condução feita por você dessa pandemia.

Durante toda essa crise, é curioso que a OMS venha insistindo em elogiar a China por sua suposta “transparência”. Consistentemente, você tem se somado a esses elogios, a despeito da China ter sido qualquer coisa menos transparente. No começo de janeiro, por exemplo, a China ordenou a destruição de amostras do vírus, desprovendo o mundo de informação essencial. Mesmo agora, a China continua a minar as Regulações Sanitárias Internacionais ao recusar-se a compartilhar dados precisos e de forma ágil, amostras virais e isoladas e por reter informações vitais sobre o vírus e sua origem. E, até hoje, a China continua a negar acesso internacional a seus cientistas e laboratórios relevantes, isso tudo enquanto segue ampla e imprudentemente culpando e censurando seus próprios especialistas.

A OMS tem falhado em publicamente exigir da China que permita uma investigação independente sobre as origens do vírus, apesar do recente endosso dessa investigação pelo seu próprio Comitê de Emergência. A falha da OMS em exigir essa investigação levou estados membros da OMS a adotar a resolução “COVID-19 Response” na Assembleia Mundial da Saúde, a qual ecoa a solicitação dos Estados Unidos e muitos outros por uma pesquisa imparcial independente e abrangente de como a OMS lidou com a crise. A resolução também pede por uma investigação sobre as origens do vírus, a qual é necessária para o mundo saber a melhor forma de combater a doença.

Talvez pior do que todas essas falhas é o fato de sabermos que a OMS poderia ter feito muito melhor. Poucos anos atrás, sob a direção de uma outra Diretora Geral, a OMS mostrou ao mundo o tanto que tem a oferecer. Em 2003, em resposta ao surto da SARS na China, a Diretora Geral Harlem Brundtland anunciou corajosamente o primeiro aviso de emergência em viagens da OMS em 55 anos, recomendando evitar viagens para o e do epicentro da doença no sul da China. Ela também não hesitou em criticar a China por ameaçar a saúde global ao tentar esconder o surto através de seu expediente usual de prender quem denuncia algo e ao censurar a imprensa.

Muitas vidas poderiam ter sido salvas se você tivesse seguido o exemplo da Dra. Brundtland.

Está claro que os seus repetidos erros e da sua organização na resposta à pandemia têm sido extremamente custosos ao mundo. O único caminho à frente para a OMS é se ela puder de fato demonstrar sua independência da China. Meu governo já começou tratativas com você sobre como reformar a Organização. Mas uma ação é necessária, rapidamente. Não temos tempo a perder.

É por isso que é meu dever, como presidente dos Estados Unidos, informar a você que, se a OMS não se comprometer com melhorias substantivas nos próximos 30 dias, eu irei alterar para permanente o meu congelamento temporário da contribuição dos Estados Unidos à OMS e irei reconsiderar nossa filiação na Organização. Não posso permitir que os dólares dos pagadores de impostos norte-americanos continuem a financiar uma Organização que, no seu formato atual, claramente não está servindo aos interesses dos Estados Unidos da América.

Atenciosamente,

Donald Trump

domingo, 1 de março de 2020

Toda a direita brasileira, em qualquer de suas modalidades, é perfeitamente constitucional

J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

É algo que se pode ver todos os dias, em qualquer lugar. Muita gente que realmente não é de esquerda neste país, que reprova de alto a baixo o complexo Lula-PT e, sobretudo, que condena sem nenhuma hesitação as calamidades impostas ao Brasil em seus 13 anos e meio de governo, decidiu que existe na política brasileira algo tão ruim, ou ainda pior: a “direita”. Uma parte disso é direita mesmo, sem aspas - milhões de cidadãos que têm valores, crenças e desejos opostos ao que se considera o pensamento liberal. Outra parte é apenas contra Lula, o PT e os seus agentes; depois da experiência que o País teve com eles, não querem nem pensar na ideia de que possam voltar um dia. Mas também se pode juntar as duas e chamar o conjunto de “governo Jair Bolsonaro”.

É esse, hoje, o mais intratável problema que o Brasil do “equilíbrio”, como geralmente gostam de se apresentar as pessoas descritas nas primeiras linhas, têm diante de si. Não toleram o governo e quase nada do que ele pensa, faz ou representa. Mas não sabem, na prática, o que fazer a respeito - não têm nem sequer uma pista.

Há, naturalmente, uma dificuldade de grosso calibre para os adversários e inimigos do governo: toda a direita brasileira, em qualquer de suas modalidades visíveis, é perfeitamente constitucional. Está autorizada por lei a pensar do jeito que quiser, sem pedir licença a ninguém. Pode votar, e, se os seus escolhidos ganharem, são eles que vão para o governo.

Também pode manifestar-se livremente, em lugares fechados ou em praça pública - e não tem nenhuma obrigação, quando se expressa, de defender apenas as causas aprovadas pela média da moral política vigente.

Não é possível, enfim, impedir que a direita exista, promova as causas que aprova e tenha tanto direito a participar da vida pública do Brasil quanto qualquer outra fatia da sociedade. Só há um jeito, em suma, de se lidar com ela: derrotá-la em eleições livres.

É aí, justamente, que está a mãe das complicações para muitas pessoas decentes que defendem sinceramente as liberdades, a moderação e o progresso do Brasil. Em vez de se apresentarem como uma alternativa racional e mais eficaz que o governo Bolsonaro para manter o País livre de Lula e seus etcs., pretendem travar sua disputa política contra a direita ficando, vejam só, parecidas com a esquerda.

O que é que adianta, então? Se é para concordar com o PT, muito obrigado: é melhor, então, ficar com o artigo original logo de uma vez. Alguma coisa está muito errada nisso tudo quando um banqueiro de investimentos milionário, e que se opõe ao governo, diz que se sente “de esquerda”.

Imagina-se que para ganhar eleições contra a direita é indispensável tirar votos que estão na direita - ir buscar eleitores que votaram em Bolsonaro e possam estar, ou tornar-se, desiludidos com ele. Afinal, eles são a maioria; é preciso lembrar, de vez em quando, que o outro lado perdeu. Mas, não. Ficam falando em distribuição de renda, igualdade, justiça e coisas assim. É a eterna busca pela batalha perdida. Distribuição de renda? Mas o que adianta querer ganhar voto com isso se tanto esquerda como direita juram que são a favor? É como defender a luz elétrica.

Você já ouviu alguém dizer: “Sou a favor de que haja uns poucos ricos e um monte de pobres, e quero mais é que os pobres vão para o diabo que os carregue?” Claro que não. Não é isso, portanto, que separa direita e esquerda. A diferença, mesmo, é o que “distribuição de renda” significa na vida real para uma e para outra - e, sobretudo, o que deve ser feito para se chegar a ela.

Vai explicar isso para o banqueiro de esquerda.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Trezentos Picaretas - Alexandre Garcia

“Há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses.” A constatação é de 1993, do presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ter sido, por quatro anos, deputado-constituinte. Dois anos depois, a constatação virava música dos Paralamas do Sucesso: “Luiz Inácio avisou, Luiz Inácio avisou/São trezentos picaretas com anel de doutor”.

O tempo passou, a prática continuou, e em fevereiro de 2015 foi o Ministro da Educação de Dilma, Cid Gomes, que avisou: “Tem lá uns 400, 300 deputados que quanto pior, melhor pra eles, que querem que o governo esteja frágil, porque é a forma deles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele e aprovarem suas emendas impositivas.”

Semana passada foi a vez de um ministro de Bolsonaro, General Augusto Heleno, dar o aviso. Não o fez em público, mas numa queixa privada, para o Ministro Paulo Guedes, captada por um microfone indiscreto: “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo. Fodam-se.”

Mais tarde, em nota, o Ministro da Segurança Institucional acrescentou: “Isso prejudica o Executivo e contraria os preceitos de um regime presidencialista. Se desejam o parlamentarismo, mudem a Constituição.”

A Constituição de 1988 é a origem disso. Logo que foi promulgada, entrevistei o Presidente José Sarney na TV e ele disse: “Esta Constituição torna o país ingovernável”. Em 2014, com 28 anos de observação, Sarney, que viveu a maior parte da carreira política no parlamento, acrescentou: “A compulsão de expandir poderes, torna o país ingovernável. O parlamento desmoralizou-se, instituiu práticas condenáveis.”

Eu cobri a Constituinte e sei como aconteceu. Estavam fazendo uma constituição parlamentar e o presidente Sarney se mobilizou contra. De consolo, fizeram uma emenda presidencial, dando ao presidente a Medida Provisória. E criaram uma constituição Frankenstein, na qual o presidente, que é responsável pelo governo, não tem os poderes para governar; quem tem esses poderes é o Congresso, que não tem a responsabilidade de governar.

O resultado é que para governar, os presidentes se entregaram aos partidos, cedendo ministérios e estatais, o que gerou a maior corrupção institucionalizada. Chamou-se isso de “Presidencialismo de Coalizão” – um eufemismo para esse Frankenstein.

O atual governo interrompeu o acesso do monstro e afetou as “práticas condenáveis” e "os próprios interesses”, aplicando a separação de poderes, prevista na Constituição. A situação foi agravada com as emendas impositivas – dê o dinheiro aos deputados ainda que falte para quem tem o ônus de cobrar os impostos e governar. E agora articulam a derrubada de um veto do presidente, para usar mais 30 bilhões, em ano de eleição municipal.
Gazeta do Povo

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

J.R.Guzzo: Bolsonaro não deveria abrir mais a boca para brigar com ninguém até 2022


O presidente Jair Bolsonaro, caso fosse capaz de parar para pensar cinco minutos no que é bom para ele e ruim para os seus inimigos, como fazem nove entre dez pessoas que estão num cargo como o seu, tomaria a partir de zero hora dessa quinta-feira a seguinte decisão: não abrir mais a boca para brigar com ninguém até o dia 31 de dezembro de 2022. Com ninguém? Isso mesmo: com ninguém, homem ou mulher, gente boa ou gente ruim, vivo ou morto. Mas e quando ele se sentir injuriado, injustiçado, indignado – vai aguentar quieto, como se tivesse sangue de barata? Isso mesmo, mais uma vez. Presidente da República não é um cidadão como qualquer outro. Não interessa o tipo de sangue que tem – A, B, AB, O-Universal ou de barata. O que interessa é que tem obrigações, responsabilidades e compromissos nos quais não pode falhar. Um deles é não sair batendo boca com ninguém.

Quem tem de responder a críticas, discordâncias, agressões, ofensas ou seja lá o que for não é Bolsonaro. É qualquer um – menos ele. O presidente tem muita gente para fazer isso. Tem um Ministério inteirinho. Tem deputados, senadores e governadores que jogam no seu time. Tem seus serviços de comunicação. Tem as redes sociais. Tem, em suma, todo mundo que está a seu favor. Se vai ele mesmo para o meio da rua e entra numa rixa atrás da outra, é porque quer e gosta de fazer isso. E como presidente, Bolsonaro não tem o direito de querer e gostar de baderna.

Esse atrito permanente, além disso, é uma coisa que não faz sentido. De um lado, só conforta as pessoas e as forças que mais o detestam. De outro, não o ajuda em nada. Mas o “público interno”, os bolsonaristas devotos, não vibra quando ele sai na mão com a mídia, a esquerda ou as figuras francamente detestáveis com quem vive rolando no chão? Pode ser; sabe lá o que os seus gênios da comunicação digital estão mandando que ele faça. Mas nessas horas Bolsonaro tem de lembrar que não é presidente só dos que votaram nele, e sim de todos os 200 milhões de brasileiros. É sua obrigação, junto a eles, manter a compostura, e não dar bananas.

Se ficasse quieto até o final do seu governo, só falando como um chefe de Estado, Bolsonaro iria tirar dos seus adversários a arma que mais gostam de usar – talvez, até, nem tenham outra. Ninguém vai crescer em cima dele discutindo pontos de doutrina socioeconômica, ou dizendo que é “fascista”, ou “misógino”, ou coisas que a população nem sabe o que são. Mas adianta alguma coisa falar isso? Não parece. Na porta por trás da qual deveriam estar as ideias de Bolsonaro, a visita bate, bate, bate – e ninguém responde.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Olavo e Stalin

Uma postagem de uma semana atrás onde Olavo ainda insiste em cogitar a hipótese da Terra ser plana.

Olavo de Carvalho disse em seu Facebook que “o esquerdismo é uma mutilação intelectual auto-imposta e, na maioria dos casos, incurável”. Muito bem, até concordo. Só que me ocorreu uma dúvida e, como Olavo foi comunista radical e filiado ao PCB, perguntei a ele se ele se curou - eu tenho certeza absoluta que não. É claro que ele não me respondeu. O silêncio é a resposta de praxe em quase todas as perguntas que o incomodam (isso quando ele não responde com uma meia dúzia de impropérios ou bloqueia de vez quem ousa inquiri-lo).

Vejam só. No stalinismo, notadamente no pós-guerra, nenhuma dimensão da existência humana podia ser admitida como sendo indiferente e todas estavam a serviço da política. Em cada caso - da política ao esporte, da filosofia à literatura, do cinema ao divertimento - não se reconhecia outra alternativa: quem não pertencia explícita e ativamente ao campo revolucionário e socialista, isto é, ao lado da União Soviética, situava-se, pelo menos objetivamente, no campo do inimigo, o do capitalismo explorador: o Mal. Desde a morte do profeta Maniqueu - filósofo persa do século III, que dividiu o mundo simplesmente entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo - o mundo não conhecia uma oposição doutrinária tão extremada entre o Bem e o Mal.

Posto isto, a minha certeza que Olavo não se “curou” do esquerdismo fica fácil de explicar e ainda mais fácil de ser constatada se alguém se der ao trabalho de acompanhar uma intriga dele com qualquer pessoa - ele vive de intrigas -, bastando observar que: 1) a argumentação dele sempre dá lugar a um ataque pessoal desqualificante; 2) tudo que o contradiz é considerado errado e quem o contradiz não é considerado como interlocutor, mas sim como um inimigo a ser eliminado, literalmente, e isso pode ser observado em qualquer discussão sobre qualquer assunto, seja político, científico, artistico, etc.. Ora, se isso não for o mais puro stalinismo, eu não sei o que é.

Ainda que seu discurso se assemelhe ao de um direitista empedernido, suas atitudes maniqueístas são a prova cabal do ranço comunista que Olavo carrega. Não é de admirar, até porque, se trata de uma personalidade egocêntrica doentia e instável - e lá se vão mais de 20 anos que o acompanho. O sujeito já foi comunista, astrólogo, dervixe (um tipo de islâmico sufista) e fundador de uma tariqa (confraria esotérica islâmica) no Brasil, filósofo auto-outorgado, professor idem sem diploma de magistério e hoje é um carola radical e místico capaz de defender o terraplanismo, afirmar que as músicas dos Beatles foram compostas por Theodor Adorno, dizer que Newton estava errado e que Einstein era um picareta plagiador de Poincaré.

E ainda tem muita gente que dá crédito total a ele...

Ricardo Froes



terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Querem cassar os direitos de Regina Duarte - JRGuzzo


Gazeta do Povo
Para além de toda a gritaria indignada de uma parte da classe artística brasileira, à beira de um ataque histérico com a nomeação de Regina Duarte para a Secretaria Especial de Cultura, há um fato indiscutível e chocante: os colegas de profissão da atriz estão negando a ela o exercício livre de seus direitos civis. É algo realmente extraordinário.

Mais de 60 anos após as lutas de Martin Luther King, que mudaram os Estados Unidos para sempre ao provar para a sociedade americana e para o resto do mundo que todos os cidadãos de um país têm direitos naturais que não podem ser negados por ninguém e por nenhum motivo, estamos de volta, no Brasil de 2020, ao Alabama de 1960.

A “classe artística brasileira”, ou mais exatamente os que fazem barulho na mídia, está dizendo que Regina Duarte não pode exercer o seu direito constitucional de aceitar um convite para o ministério do governo Jair Bolsonaro.

Assim como um negro americano não podia ocupar cargos públicos pelo fato de ser negro, Regina Duarte não pode ser ministra pelo fato de ser atriz – e atrizes, na visão das nossas classes “intelectuais”, não podem trabalhar num governo de direita, porque não têm o direito, garantido por lei, de ser de direita. Regina é de direita? Muito bem: e o que resto do mundo tem a ver com isso? A Constituição do Brasil diz que ela tem o direito de pensar o que lhe der na telha.

Nenhum dos indignados com a nomeação de Regina Duarte se lembrou de levar em conta que o governo de Jair Bolsonaro é legal, legítimo e constitucional. Foi eleito democraticamente, dentro de todas as regras em vigor, em eleições livres, por quase 58 milhões de votos – a maioria absoluta, de longe, dos que votaram na eleição presidencial de 2018.

O que há de errado em aceitar um convite para trabalhar nesse governo? Se você é contra o governo, vá adiante e seja contra; mas você não pode negar ao cidadão que está ao seu lado o direito de ser a favor. Ao agir como agiu no caso de Regina Duarte, a “categoria artística” mostrou que não aceita, simplesmente, as regras de uma democracia. Não há remédio conhecido para isso: quem não aceita as regras da democracia é a favor de ditaduras. O resto é argumentação hipócrita e falsificada.

Se Regina Duarte vai ou não dar certo como secretária da Cultura já são outros quinhentos. A impressão, pelos fatos disponíveis hoje, é que isso é uma missão impossível. Talvez possa se demostrar que não, que a missão seja possível – mas, nesse caso, será preciso fazer a demonstração concreta.

É, mais ou menos, como nomear um cidadão para o Ministério dos Discos Voadores – que raios um filho de Deus (uma filha, no caso), pode fazer de útil num cargo desses? O Brasil não precisa de uma Secretaria, de um Ministério da Cultura. Precisa de cultura – que não apenas é outra coisa, mas é algo que a intervenção do governo ativamente atrapalha.

O Brasil precisa de um serviço capaz de tapar goteiras, instalar ar condicionado e evitar incêndios em seus museus, bibliotecas e milhares de instalações dedicadas à cultura e entregues ao mais miserável abandono. Precisa impedir que suas construções históricas venham abaixo. Precisa salvar as estátuas expostas em praça pública. Precisa de todas essas coisas que você sabe tão bem quais são – e nenhuma delas tem nada a ver com a Secretaria Especial de Cultura.

Mas não é isso que se discute. O que se quer é cassar, em público, os direitos de uma cidadã brasileira livre. É muito mais que ódio, apenas.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Os gringos não entendem nada de agronegócio e querem dar pitaco - JRGuzzo

Você já viu, pelo menos em fotos, um pé de soja plantado no estado do Paraná? Já viu um pé de milho? Melhor ainda: é possível fazer uma viagem de 50 quilômetros entre a maioria das cidades paranaenses, ou qualquer delas, sem ver a terra plenamente ocupada por lavouras de alguma coisa aproveitável para a alimentação? Pois então fique sabendo: isso que você pode ver todos os dias, e viu durante toda a sua vida, é um segredo fechado a 777 chaves para todo o sujeito que viva hoje num país de primeiro mundo.

Na Europa, nos Estados Unidos e nas outras franjas desenvolvidas que sobram do resto do planeta Terra, as pessoas estão convencidas que toda a agricultura e a produção de carnes do Brasil são feitas na Amazônia – que, aliás, está “ardendo em chamas”, como garantiu o presidente da França, Emmanuel Macron. Estão tocando fogo na floresta, acham eles todos, porque os brasileiros precisam de mais terra ainda para plantar mais, criar mais boi, mais porco e mais frango, e ganhar mais dinheiro.

Para piorar, há também a certeza, no mundo que se tem por “civilizado”, que toda a agropecuária brasileira só se tornou a primeira maior do planeta (junto com a americana) porque, além de queimar sua mata virgem, usa “agrotóxicos”. Além de nunca ter lhes ocorrido que dentro dos 8,5 milhões de km² do Brasil exista algum tipo de atividade rural fora da Amazônia, estão certos de que até hoje os brasileiros não conhecem a existência do trator, da irrigação e da agronomia.

Nunca ouviram falar em genética, tecnologia, satélites, GPS, meteorologia, veterinária, manejo de solo, colheitadeiras – enfim, não têm ideia do que sejam tecnologia ou produtividade. Com essa vida de treva, só sabem produzir soterrando a “Amazônia” com venenos químicos “banidos” na Europa e nos Estados Unidos. Conclusão: somos um país atrasado demais para termos fazendas (“fazendas aqui, florestas lá”, é o grande lema ambientalista do momento) e o agronegócio brasileiro é uma ameaça para o mundo.

Dentro de tal visão das coisas, o Paraná, por exemplo, simplesmente não pode existir. Mas há provas materiais de que o Paraná existe, sim – e aí, como se explica um negócio desses? Bastaria a visita de um comitê qualquer de autoridades confiáveis do primeiro mundo, e mais uma duas ou três horas de leitura séria, para se chegar à conclusão de que existe algo profundamente errado com todos os fenômenos descritos acima.

O comitê e os leitores iriam descobrir, então, que o Paraná, com 200.000 quilômetros quadrados de extensão, e a 3.000 quilômetros de distância da Amazônia, é um dos maiores centros agrícolas do mundo. Na safra de verão de 2019, e na safra de outono/inverno 2019-2020, deverá produzir cerca de 40 milhões de toneladas de grãos – mais de 15% do total colhido pelo Brasil, o maior produtor agrícola da Terra, com 240 milhões de toneladas. É um aumento de quase 30% sobre a colheita anterior – e praticamente na mesma área plantada O nome disso é produtividade.

O Paraná, sozinho, tem o tamanho de cinco Holandas, ou de 60% de uma Alemanha inteira – não é razoável, assim, que seja integralmente desconhecido nas nações mais cultas do sistema solar. Mas o que é razoável, hoje em dia, na militância ambiental que envolve não apenas gente de bom coração, mas governos, organizações internacionais, ONGs bem financiadas, universidades, empresas com interesses econômicos de porte mundial? Nada é razoável nesse bioma.

É possível saber com um mínimo de esforço (e muita gente sabe) que 70% de toda a produção do campo no Brasil vem de quatro Estados – Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, sendo que o Paraná, especificamente, ocupa 10% da área cultivada em todo o país. O que a Amazônia tem a ver com isso? Nada, salvo o fato de que uma parte do Mato Grosso pertence à “Amazônia Legal” – uma invenção burocrática que nada tem a ver com a ciência geográfica, e sim com truques fiscais para se pagar menos imposto.

A ignorância divide-se basicamente em duas modalidades: a involuntária e a voluntária. A primeira é a que leva o cidadão comum dos países ricos, mesmo os de boa formação cultural, a desconhecerem fatos rudimentares sobre o Brasil antes de darem suas opiniões a respeito de uma suposição realmente extraordinária: a de que a produção brasileira de alimentos não apenas é uma coisa do mal, mas um perigo para a segurança da humanidade. Ela é fruto, basicamente, da preguiça de pensar. Já a outra modalidade de ignorância, a voluntária, não tem nada de tolice ou desatenção dentro de si. Tem apenas má fé – e propósitos muito bem definidos. (Gazeta do Povo)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O Jogo dos 45 Erros - Democracia em Vertigem


Luan Sperandio - Gazeta do Povo

No documentário Democracia em Vertigem, Petra Costa não adulterou apenas fotos para mostrar que a guerrilha urbana de esquerda era inofensiva nos anos 1970. Ao longo de mais de duas horas, praticamente a cada três ou quatro frases o espectador encontra uma omissão importante, uma falsa narrativa ou uma indução conspiratória.

Em meio a isso, há registros caricatos de um ou outro crítico ao PT, falas emocionadas da mãe da diretora sobre Dilma, e Lula se comparando a Jesus Cristo.

Mas o filme cumpre seu papel: o de ignorar fatos, dados e evidências para vender ao mundo a visão que o PT tem sobre o impeachment, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro.

Aqui estão as 45 inconsistências do filme.

1. Dimensão das manifestações a favor do impeachment de Dilma
Houve diversas manifestações populares contra o governo de Dilma Rousseff, especialmente em cinco oportunidades. O protesto do dia 13 de março de 2016 foi o maior ato político da história do país, superando as Diretas Já. O documentário mostra alguns poucos reacionários aleatórios, omite a real dimensão dos protestos e o quanto a saída da presidente mais impopular da história era desejada pelos brasileiros.

2. “Não havia expectativa de uma prisão tão rápida. Pegou todo mundo de surpresa”
O filme diz que “seu processo [o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] chega à segunda instância mais rápido do que qualquer outro da Lava Jato”. Não é bem assim. Um levantamento feito pelo economista Carlos Goés mostrou que o período de tramitação do processo dele entre a condenação na primeira e a segunda instância do TRF-4 não foi atípica. “Olhando os dados, mesmo somente para aqueles que estão restritos aos da Lava Jato, não dá pra dizer que há nada de extraordinário na tramitação do processo do Lula”, afirmou.

3. “Entre os 443 parlamentares, apenas 2 eram da classe trabalhadora”
Petra diz que Lula decidiu se tornar político quando viu que apenas 2 entre 443 parlamentares eram da classe trabalhadora. Cegamente, confia na fala de Lula, não a checa (uma metodologia que domina todas as duas horas de documentário). A frase muito provavelmente é falsa, já que nunca houve 443 parlamentares no Congresso.

4. “O PT representava a esperança de que as desigualdades do país seriam enfrentadas”
Um estudo feito pelo World Wealth and Income Database apontou que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. O crescimento econômico verificado no país teve pouco impacto na redução da desigualdade, porque beneficiou principalmente os 10% mais ricos.

5. “Com Lula, a taxa de desemprego atinge o menor índice da história”
A dissertação do economista Rafael Baccioti mostrou que as taxas de desemprego registradas no Brasil nos anos 1980, 1970 e 1950 foram menores do que durante o governo Lula, com números entre 2% e 3%.

6. Mensalão
No julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal, ficou claro que o Mensalão foi um esquema de desvio de dinheiro público cuja finalidade era a compra de apoio parlamentar no Congresso Nacional. Tudo para favorecer a aprovação de projetos de interesse do governo Lula.

7. Dilma perdeu prestígio porque atacou bancos e juros
Quando Dilma assumiu a presidência, a taxa Selic estava em menos de 8,75%. Ao final de 2011, ela chegou a 12,5%, quando passou a cair até 7,25%. Não deu certo, os juros voltaram a subir e passaram dos 14%. Só voltaram a cair quando a equipe econômica de Michel Temer assumiu. Dilma discursava contra rentistas, mas seu governo foi o que mais os favoreceu.

8. “Cotas racistas”
O documentário mostra uma manifestante que pede a saída de Dilma e diz que o PT instituiu “cotas racistas”. Mas uma pesquisa de 2013 realizada pelo Ibope apontou que 62% dos brasileiros eram a favor dos três tipos de cotas no acesso a universidades: baixa renda, escola pública e raciais. Quando analisadas apenas a reserva de vagas para alunos de escola pública e pobres, o percentual chegava a 77%.

9. Bolsa Família foi criado por Lula
O documentário sugere que a ajuda aos mais pobres foi uma benevolência exclusiva dos governos petistas e ignora que houve programas de distribuição de renda antes dos governos do PT. Em 2001, o próprio Lula criticou o Bolsa Escola de FHC, chamando-o de “esmola”.

10. Michel Temer foi um traidor desde o início do mandato
Quando a onda de protestos anti-Dilma varreu o país no início de 2015, Michel Temer escreveu em seu Twitter: “O impeachment é impensável, geraria uma crise institucional. Não tem base jurídica e nem política”. Ao longo daquele ano, ele assumiu a articulação política do governo e desempenhou bem a tarefa. Quem afirmou isso foi o então deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos vice-líderes do governo Dilma na Câmara.

11. “Dilma tirou cargos do PMDB”
A rebelião de Temer se deu, segundo o documentário, porque Dilma tentou restringir a influência do PMDB no governo. Não foi bem assim. Em 12 de março de 2016, ele conseguiu evitar que o partido rompesse com o governo. Quatro dias mais tarde, a presidente nomeou Mauro Lopes ministro da Aviação Civil.

12. Crise econômica
Por algum motivo, Petra não achou que era uma boa ideia explicar que as políticas econômicas da Era PT levaram à maior crise econômica da história brasileira e a mais de 10 milhões de desempregados. Só depois de meia hora é que ter havido alguma crise econômica é mencionada, sem explicar suas dimensões, é claro.

13. Petrobras espionada pela CIA
Documentos vazados em 2013 indicaram que o governo dos Estados Unidos teria espionado a Petrobras. Apesar da gravidade, é um enorme salto argumentativo deduzir que desejavam o impeachment para poder pôr as mãos na companhia.

14. “Moro: homem treinado nos Estados Unidos”
O então juiz participou em 2007 do International Visitors Leadership Program, o mesmo programa do qual participou… Dilma Rousseff em 1992.

15. “Aécio não aceita o resultado”
O documentário diz que Aécio Neves ele não aceitou o resultado da eleição e por isso entrou no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Dilma-Temer. Mas o próprio deputado, antes senador, admitiu que entrou com a ação apenas para “encher o saco” do PT.

16. “Aécio apoia o impeachment”
Quando os pedidos de impeachment de Dilma começaram, Aécio Neves rejeitou a tese. Aécio decidiu aderir ao movimento apenas em 2016, quando compareceu às manifestações em São Paulo e foi hostilizado na Avenida Paulista.

17. “Grupos de direita usam algoritmos de redes sociais”
Estudos mais recentes mostram que a influência de algoritmos de redes sociais para a polarização política foi superestimada. Além disso, militantes e grupos de esquerda usam as mesmas arenas do debate público que a direita.

18. Crise internacional
O documentário fala que após uma “queda global em commodities e série de erros econômicos o país entrou em crise”. Mas um relatório do FMI mostra que 183 dos 192 países analisados registraram crescimento econômico superior ao brasileiro entre 2015 e 2016. De acordo com estudo do economista da FGV Marcel Balassiano, mais de 90% dos países do mundo cresceram mais do que o Brasil entre 2011 e 2018.

19. Dilma responsável por todos os problemas do país
Para Petra, quem era a favor do impeachment “acreditava que a presidente era a responsável por todos os problemas do país”. Sem nenhum dado ou pesquisa, é só a opinião dela mesma. Um estudo do professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Reinaldo Gonçalves concluiu que cerca de 90% do resultado negativo do desempenho econômico durante o governo Dilma se deu a partir de “falhas nacionais”, isto é, podem ser atribuídas à forma como o país foi conduzido.

20. Fraude fiscal é pior que corrupção
Dilma sofreu impeachment porque o Congresso considerou crime de responsabilidade as fraudes fiscais e contábeis protagonizadas pelo governo. Chamá-las de “pedaladas fiscais” é diminuir a magnitude delas e suas consequências perversas. O economista Carlos Goés explicou a gravidade dessas fraudes.

21. Julgamento do Tribunal de Contas
O pedido de impeachment foi baseado no julgamento do Tribunal de Contas da União, que rejeitou as contas de Dilma Rousseff em outubro de 2015 devido às fraudes fiscais. Nada disso é mencionado no documentário.

22. “Precisamos de uma comissão internacional”
“Por que não se cria uma comissão internacional de direito público para analisar se teve fraude fiscal ou não?”, pergunta Lula no documentário. Simples: é para isso que existe o TCU, e ele rejeitou as contas de Dilma.

23. Quando começou a queda de Dilma?
Para o então deputado federal Jean Wyllys (PSOL), a queda de Dilma começou no Dia do Trabalho de 2013, quando a presidente teria discursado dizendo que ricos, banqueiros e rentistas tinham de “pagar pela crise”. O discurso, na verdade, tratou da correção da tabela do Imposto de Renda e de reajuste dos valores do Bolsa Família. Não faz sentido acreditar que empresários manipulariam os balanços de suas próprias empresas, com muitos indo a falência, para prejudicar uma presidente.

24. Discurso de posse de Michel Temer
A edição do documentário sugere que Temer estaria atentando contra o estado laico ao afirmar que seu governo seria “um ato religioso”. Mas o que ele realmente disse foi “o que nós queremos fazer agora, com o Brasil, é um ato religioso, é um ato de religação de toda a sociedade brasileira com os valores fundamentais do nosso País”. Era uma referência a unificar a sociedade, dividida e polarizada após o impeachment.

25. O acordão de Romero Jucá e Sérgio Machado
Em áudio vazado de Romero Jucá e Sérgio Machado, o então senador afirma que era mais fácil mudar de governo e estancar a sangria, fazer um acordo nacional. Petra afirma que essa seria a motivação do impeachment. Mas omite maldosamente o trecho em que Machado revela: “Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo”. O suposto acordão era para proteger o PT também.

26. Arrependimento de Lula
Quando Petra pergunta a Lula se ele se arrependeria de algo, ele lamenta não ter enviado projeto ao Congresso “para regular os meios de comunicação”. Porém, em 2004 seu governo encaminhou um projeto ao Congresso para criar um conselho de classe com poderes para punir jornalistas. A proposta não foi aprovada.

27. Liberdade de imprensa do PT
Lula se gaba de “fazer o que nós fizemos” com liberdade de imprensa, mas não foi bem assim. Em 2004, por exemplo, Lula pediu a expulsão do jornalista americano Larry Rohter porque ele escreveu que o ex-presidente nutria certo apreço por bebidas alcoólicas, sem falar nos milhões pagos a blogueiros para que eles defendessem o governo.

28. Liberdade para legislar
Lula também gabou-se dos governos do PT terem deixado “o Congresso funcionando livremente”. Mas foi sob o seu próprio governo que ocorreu o Mensalão, justamente para evitar que congressistas se opusessem livremente aos projetos do governo.

29. Quais as acusações contra Lula?
O documentário afirma que, depois de dois anos de investigação, a única “acusação de fato” era de que Lula teria recebido um triplex de uma empreiteira. Só isso. Ele ignora que havia diversos outros processos contra o ex-presidente, inclusive alguns dos quais ele foi inocentado. Lula foi condenado em dois processos por corrupção e lavagem de dinheiro, além de ser réu em seis outras ações penais.

30. Marisa morre 4 meses após ser acusada
O documentário sugere que a ex-esposa de Lula, Marisa Letícia, morreu em consequência da perseguição sofrida por ele e pela família. O que o filme não conta é que o ex-presidente atribuiu a Marisa Letícia a responsabilidade pelos aluguéis não pagos em um imóvel que o MPF afirma ser de fachada e adquirido com dinheiro da Odebrecht.

31. Lula liderava pesquisas, mas…
Em 2018, Lula liderava as pesquisas para a Presidência. Mas também tinha a maior rejeição entre todos os candidatos, com 31% (tecnicamente empatado com Jair Bolsonaro). Uma eventual vitória não seria fácil.

32. Lava Jato x economia
Em uma audiência, Lula pergunta ao juiz Sergio Moro se ele “se sente responsável pela Lava Jato ter destruído a indústria de construção civil deste país?” Mais uma narrativa petista: a de que a Lava Jato prejudicou a economia no governo Dilma. Estudos, porém, mostram que integridade e combate à corrupção ajudam o ambiente de negócios e a economia.

33.Votos “esdrúxulos” dos parlamentares
O documentário mostra diversos parlamentares usando motivos alheios à acusação para justificar o voto pelo impeachment de Dilma e, assim, sugere que o procesos foi injusto. Mas o impeachment não é um instituto somente jurídico, mas também político. O teor dos votos no impeachment de Fernando Collor foi similar.

34. Condução coercitiva de Lula
O documentário critica a condução coercitiva de Lula para um depoimento, apesar de afirmar que ele nunca havia se negado a testemunhar na Polícia Federal. Mas o ex-juiz Sergio Moro justificou o pedido dizendo que a condução coercitiva era necessária para evitar maiores tumultos e transtornos.

35. Conversa vazada entre Dilma e Lula
O documentário pormenoriza o teor da conversa e foca na ação de Sergio Moro, que posteriormente foi anulada pelo ministro do STF Teori Zavascki. Ambos foram processados pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot por obstrução de justiça, mas foram absolvidos.

36. Conversa entre Temer e Joesley Batista
O documentário edita maliciosamente um diálogo que sugere que o então presidente Michel Temer teria apoiado possível obstrução de justiça feita pelo empresário Joesley Batista a fim de Eduardo Cunha não delatá-los. O ex-presidente foi absolvido em 2019 porque a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal foi considerada “frágil”. O laudo pericial do áudio apontou interrupções, ruídos e falas ininteligíveis que, suprimidos, impediram compreender o sentido completo da conversa.

37. “O Congresso muda de posição. Temer não deve ser investigado?”
O documentário critica o fato de parlamentares que antes se diziam defensores do combate à corrupção terem protegido Michel Temer das investigações. Mas as investigações contra Temer continuaram depois que ele deixou o cargo. Temer até foi preso por alguns dias.

38. “Temer fez tudo que eles queriam, leiloando reservas de petróleo para empresas estrangeiras”
A menção do documentário se refere à mudança do modelo de concessão do Pré-Sal. Antes em regime de partilha, o modelo mudou para concessão. Mas, desde 2015, integrantes da equipe ministerial de Dilma eram favoráveis à alteração. Tanto o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, quanto o da Fazenda, Joaquim Levy, defenderam mudanças na legislação.

39. “Temer fez tudo que eles queriam, enfraquecendo leis que proíbem o trabalho escravo”
Em 2017 o Ministério Público do Trabalho editou uma portaria que buscava tornar regras mais objetivas a fim de coibir eventuais arbitrariedades de agentes da Administração Pública. Isso porque mais de 90% das denúncias acerca de trabalho escravo eram julgadas improcedentes ao final do processo. O documentário não mostra que, por decisão da Ministra do STF Rosa Weber, a norma foi suspensa e nunca entrou em vigor.

40. “Temer fez tudo que eles queriam, aprovando medidas de austeridade que prejudicariam os mais pobres”
As medidas de austeridade começaram com Dilma Rousseff logo após vencida a eleição em 2014, e se intensificaram em 2015, ano em que foram cortados 87% do valor dos programas sociais.

41. Dimensão das manifestações contra Temer
Segundo estimativas das polícias militares, os protestos contra Dilma reuniram, em centenas de cidades, 2,4 milhões de pessoas em 15 de março de 2015 e 3,6 milhões em 13 de março de 2016. Já as manifestações pedindo o “Fora Temer” reuniram, em setembro de 2016, 48 mil manifestantes.

42. Sergio Moro tirou Lula da eleição presidencial
Uma jornalista fala, em inglês, que a prisão de Lula decretada pelo Sérgio Moro o tirou de vez da eleição presidencial. Não é verdade: a suspensão dos direitos políticos se dá a partir da condenação em segunda instância por causa da Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo próprio Lula.

43. E a facada?
O documentário que fala sobre polarização e enfraquecimento da democracia ignorou uma tentativa de assassinato contra o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral.

44. Um passado clandestino falso para seus pais
O documentário conta um pouco da história familiar de Petra e os mostra militantes de esquerda que atuaram na clandestinidade durante a ditadura. Mas, de acordo com uma análise do jornalista Astier Basílio em O tempo do Poeira: História e memórias do jornal e do movimento estudantil da UEL nos anos 1970 2018), “todos os anos, os pais de Petra visitavam a família em Belo Horizonte. Era, portanto, uma clandestinidade que permitia férias.”

45. A mãe da diretora não é alheia aos negócios da empreiteira da família
A mãe de Petra, Marilia Andrade, não é uma comentarista política neutra e alheia aos negócios da família como o documentário faz parecer. Ela é uma das acionistas da Andrade Gutierrez e sempre atuou nas empresas do grupo.No jantar de 60 anos do grupo, por exemplo, Lula e Dilma estavam presentes. Na ocasião, ela aproveitou para fazer lobby para que a Presidência liberasse a venda de queijo cru em Minas Gerais.

Enfim
Tudo bem Petra se declarar petista desde sempre e o documentário transmitir a visão político-partidária dela do início ao fim, com certa devoção messiânica e sebastianismo em relação a Dilma e Lula.

“No Brasil, até o passado é incerto”, já disse o ex-ministro Pedro Malan. E é nesse ritmo que Democracia em Vertigem tenta reescrever a história ao ignorar, por mais de duas cansativas horas, que a maior ameaça recente a democracia brasileira foi, na verdade, protagonizada pelo Partido dos Trabalhadores.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Pesquisa - Religiões no Brasil


Pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira 13/1 pelo jornal "Folha de S.Paulo" aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Ainda de acordo com o levantamento, as mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% entre os católicos.

A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Religião dos brasileiros
Católica: 50%
Evangélica: 31%
Não tem religião: 10%
Espírita: 3%
Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2%
Outra: 2%
Ateu: 1%
Judaica: 0,3%

Religião por sexo
Católicos:
Mulher: 51%
Homem: 49%

Evangélicos:
Mulher: 58%
Homem: 42%

Religião por cor
Católicos:
Parda: 41%
Branca: 36%
Preta: 14%
Amarela: 2%
Indígena: 2%
Outras: 4%

Evangélicos:
Parda: 43%
Branca: 30%
Preta: 16%
Amarela: 3%
Indígena: 2%
Outras: 5%

Religião por idade
Católicos:
16 a 24 anos: 13%
25 a 34 anos: 17%
35 a 44 anos: 18%
45 a 59 anos: 26%
60 anos ou mais: 25%

Evangélicos:
16 a 24 anos: 19%
25 a 34 anos: 21%
35 a 44 anos: 22%
45 a 59 anos: 23%
60 anos ou mais: 16%

Religião por escolaridade
Católicos
Fundamental: 38%
Médio: 42%
Superior: 20%

Evangélicos
Fundamental: 35%
Médio: 49%
Superior: 15%

Renda
Católicos
Até 2 salários mínimos: 46%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 9%
Mais de 10 salários mínimos: 2%

Evangélicos
Até 2 salários mínimos: 48%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 7%
Mais de 10 salários mínimos: 2%

Região do país
Católicos
Sudeste: 45%
Sul: 53%
Nordeste: 59%
Centro-Oeste: 49%
Norte: 50%

Evangélicos
Sudeste: 32%
Sul: 30%
Nordeste: 27%
Centro-Oeste: 33%
Norte: 39%

domingo, 12 de janeiro de 2020

Nexo zero - JRGuzzo


Uma das mais eficazes maneiras de perder hoje o seu tempo é ler o que escrevem ou ouvir o que dizem os “especialistas”. Problema de solução simples, então; bastaria ir se desviando dessa turma, a cada vez que um deles passa pela sua frente, e aproveitar o dia com alguma outra coisa, pois qualquer coisa será mais útil. É fácil, claro, escrever artigos dando sugestões como essa. Mas como é que um cidadão normal, hoje em dia, consegue evitar na prática um “especialista”, se praticamente todas as pessoas a quem recorre para ficar melhor informado são “especialistas”? É um problema e tanto. Como ocorria antigamente com os comunistas, que estavam escondidos debaixo de cada cama do Brasil, ou mesmo do mundo, agora quem está infiltrado em sua casa, pronto para saltar da primeira gaveta, é o “especialista”. Você pode correr dele. Mas ele vai atrás de você.

O bioma natural do “especialista”, digamos assim, é a universidade – mas o seu hábitat preferido são as mesas-redondas de televisão, programas de rádio, entrevistas de jornal e os textos ou vídeos que aparecem nas redes sociais. Não dá para chegar perto de nada disso sem cair direto num “especialista”. Ele vai lhe dizer, com segurança científica, o que significa qualquer coisa que esteja acontecendo na calota polar, em São José dos Ausentes ou na face oculta da Lua – e praticamente nada do que ensinar servirá para qualquer propósito útil. Em geral é o pior tipo que alguém poderia procurar para tentar entender algum assunto: ou não sabe nada sobre o que está falando, ou sabe alguma coisa, mas não sabe explicar, ou expõe apenas os seus próprios desejos de que isso seja assim ou assado. Especializam-se, no fundo, em ser “especialistas”.

No momento, e durante ainda mais algum tempo, os “especialistas” estão nos explicando o que acontece no Oriente Médio. Tem sido um clássico no gênero. O público foi informado de que o presidente Donald Trump estava praticamente começando a Terceira Guerra Mundial, que o Irã iria ganhar (ou já ganhou) o conflito com os Estados Unidos e que, no fim, quem se deu bem mesmo foi a tirania dos aiatolás. Não houve guerra mundial nenhuma – aliás, não houve guerra nem entre os dois. Os iranianos continuam se matando apenas entre si próprios e seus vizinhos e a ideia de que poderiam ganhar uma guerra nuclear com os Estados Unidos foi adiada para um futuro ainda não determinado. Não se trata de um momento pouco feliz dos “especialistas” – é assim mesmo que eles são, em sua grande maioria, e na grande maioria dos assuntos sobre os quais expedem os seus decretos. Já falaram, em outras ocasiões recentes, que o ministro Sérgio Moro estava morto e enterrado depois das gravações roubadas de suas conversas. Atribuíram a queda superior a 20% nos homicídios, em 2019, à iniciativa dos homicidas, ou algo assim. Julgaram que o juro baixo era um problema. Chegaram a dizer, para mostrar os perigos extremos de uma maior liberalização na compra de armas, que o tiro de um fuzil de 5,56 milímetros podia atravessar de uma vez só 12 pessoas colocadas lado a lado numa fila. Nexo? Zero.

Daria para encher esta edição de domingo, inteirinha, com as lições que recebemos de especialistas com dois anos de experiência após a faculdade, de cientistas que jamais escreveram uma linha sobre qualquer tema, de qualquer ciência, ou de juristas que foram reprovados no concurso público para a magistratura.

Como dizia Oscar Wilde, mais da metade da sua cultura depende daquilo que você não lê – e isso na época dele, há mais de 100 anos, quando não havia ninguém escrevendo nas redes sociais. Imaginem agora.