sexta-feira, 22 de maio de 2020

A CARTA DE TRUMP A THEDROS, DIRETOR GERAL DA OMS, MERECE ATENÇÃO, PRINCIPALMENTE PELOS DADOS EXPOSTOS


CASA BRANCA

WASHINGTON, DC

18 de maio de 2020

À sua excelência

Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus

Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)

Genebra, Suíça

Estimado Dr. Tedros:

Em 14 de abril de 2020, eu suspendi as contribuições dos Estados Unidos da América à Organização Mundial da Saúde enquanto meu governo investiga a falha da Organização em responder ao surto da COVID-19. Essa investigação confirma muitas das sérias preocupações que apontei mês passado e identificou outras que a OMS deveria ter se ocupado, especialmente com a alarmante falta de independência da Organização em relação à República Popular da China. Baseado nessa investigação, agora nós sabemos o seguinte:

A OMS ignorou consistentemente relatórios confiáveis do surto do vírus e Wuhan, no princípio de dezembro de 2019 – ou até antes disso, incluindo relatórios do jornal médico Lancet. A OMS falhou em investigar com independência relatórios confiáveis que conflitavam diretamente com a versão oficial do governo chinês, até aqueles que vinham de fontes da própria Wuhan.

Ainda em 30 de dezembro de 2019, o escritório da organização em Pequim sabia que havia uma grande preocupação de saúde pública em Wuhan. Entre 26 e 30 de dezembro, a imprensa da China destacou a evidência do surgimento de um novo vírus em Wuhan, baseando-se em dados de um paciente enviados a várias empresas chinesas que trabalham com genomas. Além disso, durante esse período, o Dr. Zhang Jixian – médico do Hospital Provincial de Medicina Chinesa e Ocidental, de Hubei – disse às autoridades médicas da China que um novo coronavírus estava causando uma nova doença que, àquela altura, afligia aproximadamente 180 pacientes.

No dia seguinte, autoridades taiwanesas repassaram à OMS informações que indicavam a transmissão entre seres humanos do novo vírus. Ainda assim, a Organização resolveu não compartilhar nenhumas dessas informações ao resto do mundo, provavelmente por razões políticas.

As Regulações Sanitárias Internacionais exigem dos países que informem o risco de uma emergência sanitária dentro do prazo de 24 horas. Mas a China não informou à OMS sobre os casos severos de pneumonia de origem desconhecida em Wuhan até 31 de dezembro de 2019, embora seja provável que tivessem conhecimento desses casos dias ou semanas antes.

De acordo com o Dr. Zhang Yongzhen, do Centro Clínico Público de Shanghai, ele próprio contou às autoridades chinesas, em cinco de janeiro de 2020, que havia sequenciado o genoma do vírus. Não havia publicação dessa informação senão seis dias depois, em onze de janeiro de 2020, quando o Dr. Zhang, de per si, postou a descoberta na internet. No dia seguinte, as autoridades chinesas interditaram seu laboratório para “retificações”. Até mesmo a OMS reconheceu a postagem do Dr. Zhang como um grande ato de “transparência”. Mas a Organização tem estado visivelmente calada tanto em relação ao fechamento do laboratório do Dr. Zhang como em relação à sua afirmação de que ele havia notificado as autoridades chinesas sobre sua descoberta seis dias antes.

A Organização Mundial da Saúde tem feito repetidas afirmações sobre o coronavírus que são grosseiramente imprecisas ou enganosas.

Em 14 de janeiro de 2020, a OMS gratuitamente reiterou a agora refutada tese da China de que o coronavírus não era transmissível entre seres humanos, afirmando que “investigações preliminares conduzidas pelas autoridades chinesas não encontraram evidências claras de uma transmissão entre seres humanos do novo coronavírus (2019-nCov) identificado em Wuhan, China”. Essa afirmação estrava em conflito direto com os relatórios censurados vindos de Wuhan.

Em 21 de janeiro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping supostamente pressionou você a não declarar o surto do coronavírus uma emergência. Você cedeu a essa pressão no dia seguinte e disse ao mundo que o coronavírus não configurava uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional. Apenas uma semana depois, em 30 de janeiro de 2020, evidências acachapantes indicando o contrário forçou-o a mudar de curso.

Em 28 de janeiro de 2020, após encontro com o presidente Xi em Pequim, você elogiou o governo chinês por sua “transparência” em relação ao coronavírus, anunciando que a China havia estabelecido um “novo padrão para o controle de surtos” e “deu tempo ao mundo”. Você não mencionou que a China tinha, àquela altura, silenciado ou punido diversos médicos por denunciarem o vírus nem mencionaram a restrição às instituições chinesas de publicar informações sobre ele.

Mesmo após tardiamente declarar o surto uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional em 30 de janeiro de 2020, você falhou em não pressionar a China pelo imediato acolhimento de uma equipe de especialistas em medicina da OMS. Como resultado, essa equipe emergencial não desembarcou na China senão duas semanas depois, em 16 de fevereiro de 2020. E mesmo então, a equipe não foi autorizada a visitar Wuhan até os dias finais de sua estada na China. Destaque-se que a OMS se calou quando a China negou a dois membros norte-americanos da equipe o pleno acesso a Wuhan.

Você, também, enalteceu as restrições que a China impôs sobre as viagens domésticas, mas, inexplicavelmente, foi contra o meu fechamento das fronteiros dos Estados Unidos, ou a proibição de ingresso, em relação às pessoas vindas da China. Eu estabeleci a proibição de ingresso independentemente do seu desejo. O seu jogo político nessa questão foi mortal, já que outros governantes, confiando nas suas recomendações, demoraram em impor restrições que teriam salvo vidas em relação a viagens para e da China. Inacreditavelmente, em três de fevereiro de 2020, você reiterou sua posição, opinando que, em razão de a China estar fazendo um grande trabalho protegendo o mundo do vírus, as restrições de viagens estavam “causando mais mal do que bem”. Ainda àquela altura o mundo soube que, antes de fechar a cidade de Wuhan, as autoridades chinesas permitiram que mais de cinco milhões de pessoas deixassem a cidade e muitas dessas pessoas embarcaram para diversos destinos internacionais ao redor do mundo.

Em 03 de fevereiro de 2020, a China estava pressionando países fortemente a suspender ou evitar restrições de viagem. Essa campanha de pressão foi impulsionada pelas afirmações incorretas que você fez naquele dia, dizendo ao mundo que a disseminação do vírus fora da China era “mínima e lenta” e que “as chances da disseminação fora da China [eram] bem pequenas”.

Em 03 de março de 2020, a OMS citou dados oficiais chineses para minimizar o seríssimo risco de disseminação assintomática, dizendo ao mundo que “a COVID19 não é tão transmissível como a influenza” e que, diferentemente da influenza, essa doença não era prioritariamente transmitida por “pessoas que estavam infectadas mas não estavam ainda doentes”. A evidência chinesa que a OMS trouxe ao mundo, “demonstrou que somente um por centro dos casos reportados não apresentam sintomas, e a maioria deles desenvolvem sintomas dentro de dois dias”. Muitos especialistas, entretanto, citando dados do Japão, da Coreia do Sul e de outros países, questionaram fortemente essas afirmações. Agora está claro que as afirmações da China, repetidas ao mundo pela OMS, estavam extremamente erradas.

Quando você finalmente declarou que havia uma pandemia do vírus, em onze de março de 2020, ele havia matado mais de quatro mil pessoas e infectado mais de cem mil pessoas em ao menos 114 países ao redor do mundo.

Em 11 de abril de 2020, diversos embaixadores africanos informaram ao Ministério de Relações Exteriores chinês a respeito do tratamento discriminatório dispensado a africanos com relação à pandemia em Guangzhou e outras cidades na China. Você estava ciente de que as autoridades chinesas estavam implementando uma campanha de quarentenas forçadas, despejos e negando serviços a cidadãos desses países. Você não comentou sobre as ações de discriminação racial por parte da China. Porém, sem base alguma, você rotulou como racistas as reclamações bem fundamentadas de Taiwan sobre a má condução feita por você dessa pandemia.

Durante toda essa crise, é curioso que a OMS venha insistindo em elogiar a China por sua suposta “transparência”. Consistentemente, você tem se somado a esses elogios, a despeito da China ter sido qualquer coisa menos transparente. No começo de janeiro, por exemplo, a China ordenou a destruição de amostras do vírus, desprovendo o mundo de informação essencial. Mesmo agora, a China continua a minar as Regulações Sanitárias Internacionais ao recusar-se a compartilhar dados precisos e de forma ágil, amostras virais e isoladas e por reter informações vitais sobre o vírus e sua origem. E, até hoje, a China continua a negar acesso internacional a seus cientistas e laboratórios relevantes, isso tudo enquanto segue ampla e imprudentemente culpando e censurando seus próprios especialistas.

A OMS tem falhado em publicamente exigir da China que permita uma investigação independente sobre as origens do vírus, apesar do recente endosso dessa investigação pelo seu próprio Comitê de Emergência. A falha da OMS em exigir essa investigação levou estados membros da OMS a adotar a resolução “COVID-19 Response” na Assembleia Mundial da Saúde, a qual ecoa a solicitação dos Estados Unidos e muitos outros por uma pesquisa imparcial independente e abrangente de como a OMS lidou com a crise. A resolução também pede por uma investigação sobre as origens do vírus, a qual é necessária para o mundo saber a melhor forma de combater a doença.

Talvez pior do que todas essas falhas é o fato de sabermos que a OMS poderia ter feito muito melhor. Poucos anos atrás, sob a direção de uma outra Diretora Geral, a OMS mostrou ao mundo o tanto que tem a oferecer. Em 2003, em resposta ao surto da SARS na China, a Diretora Geral Harlem Brundtland anunciou corajosamente o primeiro aviso de emergência em viagens da OMS em 55 anos, recomendando evitar viagens para o e do epicentro da doença no sul da China. Ela também não hesitou em criticar a China por ameaçar a saúde global ao tentar esconder o surto através de seu expediente usual de prender quem denuncia algo e ao censurar a imprensa.

Muitas vidas poderiam ter sido salvas se você tivesse seguido o exemplo da Dra. Brundtland.

Está claro que os seus repetidos erros e da sua organização na resposta à pandemia têm sido extremamente custosos ao mundo. O único caminho à frente para a OMS é se ela puder de fato demonstrar sua independência da China. Meu governo já começou tratativas com você sobre como reformar a Organização. Mas uma ação é necessária, rapidamente. Não temos tempo a perder.

É por isso que é meu dever, como presidente dos Estados Unidos, informar a você que, se a OMS não se comprometer com melhorias substantivas nos próximos 30 dias, eu irei alterar para permanente o meu congelamento temporário da contribuição dos Estados Unidos à OMS e irei reconsiderar nossa filiação na Organização. Não posso permitir que os dólares dos pagadores de impostos norte-americanos continuem a financiar uma Organização que, no seu formato atual, claramente não está servindo aos interesses dos Estados Unidos da América.

Atenciosamente,

Donald Trump

domingo, 1 de março de 2020

Toda a direita brasileira, em qualquer de suas modalidades, é perfeitamente constitucional

J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

É algo que se pode ver todos os dias, em qualquer lugar. Muita gente que realmente não é de esquerda neste país, que reprova de alto a baixo o complexo Lula-PT e, sobretudo, que condena sem nenhuma hesitação as calamidades impostas ao Brasil em seus 13 anos e meio de governo, decidiu que existe na política brasileira algo tão ruim, ou ainda pior: a “direita”. Uma parte disso é direita mesmo, sem aspas - milhões de cidadãos que têm valores, crenças e desejos opostos ao que se considera o pensamento liberal. Outra parte é apenas contra Lula, o PT e os seus agentes; depois da experiência que o País teve com eles, não querem nem pensar na ideia de que possam voltar um dia. Mas também se pode juntar as duas e chamar o conjunto de “governo Jair Bolsonaro”.

É esse, hoje, o mais intratável problema que o Brasil do “equilíbrio”, como geralmente gostam de se apresentar as pessoas descritas nas primeiras linhas, têm diante de si. Não toleram o governo e quase nada do que ele pensa, faz ou representa. Mas não sabem, na prática, o que fazer a respeito - não têm nem sequer uma pista.

Há, naturalmente, uma dificuldade de grosso calibre para os adversários e inimigos do governo: toda a direita brasileira, em qualquer de suas modalidades visíveis, é perfeitamente constitucional. Está autorizada por lei a pensar do jeito que quiser, sem pedir licença a ninguém. Pode votar, e, se os seus escolhidos ganharem, são eles que vão para o governo.

Também pode manifestar-se livremente, em lugares fechados ou em praça pública - e não tem nenhuma obrigação, quando se expressa, de defender apenas as causas aprovadas pela média da moral política vigente.

Não é possível, enfim, impedir que a direita exista, promova as causas que aprova e tenha tanto direito a participar da vida pública do Brasil quanto qualquer outra fatia da sociedade. Só há um jeito, em suma, de se lidar com ela: derrotá-la em eleições livres.

É aí, justamente, que está a mãe das complicações para muitas pessoas decentes que defendem sinceramente as liberdades, a moderação e o progresso do Brasil. Em vez de se apresentarem como uma alternativa racional e mais eficaz que o governo Bolsonaro para manter o País livre de Lula e seus etcs., pretendem travar sua disputa política contra a direita ficando, vejam só, parecidas com a esquerda.

O que é que adianta, então? Se é para concordar com o PT, muito obrigado: é melhor, então, ficar com o artigo original logo de uma vez. Alguma coisa está muito errada nisso tudo quando um banqueiro de investimentos milionário, e que se opõe ao governo, diz que se sente “de esquerda”.

Imagina-se que para ganhar eleições contra a direita é indispensável tirar votos que estão na direita - ir buscar eleitores que votaram em Bolsonaro e possam estar, ou tornar-se, desiludidos com ele. Afinal, eles são a maioria; é preciso lembrar, de vez em quando, que o outro lado perdeu. Mas, não. Ficam falando em distribuição de renda, igualdade, justiça e coisas assim. É a eterna busca pela batalha perdida. Distribuição de renda? Mas o que adianta querer ganhar voto com isso se tanto esquerda como direita juram que são a favor? É como defender a luz elétrica.

Você já ouviu alguém dizer: “Sou a favor de que haja uns poucos ricos e um monte de pobres, e quero mais é que os pobres vão para o diabo que os carregue?” Claro que não. Não é isso, portanto, que separa direita e esquerda. A diferença, mesmo, é o que “distribuição de renda” significa na vida real para uma e para outra - e, sobretudo, o que deve ser feito para se chegar a ela.

Vai explicar isso para o banqueiro de esquerda.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Trezentos Picaretas - Alexandre Garcia

“Há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses.” A constatação é de 1993, do presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ter sido, por quatro anos, deputado-constituinte. Dois anos depois, a constatação virava música dos Paralamas do Sucesso: “Luiz Inácio avisou, Luiz Inácio avisou/São trezentos picaretas com anel de doutor”.

O tempo passou, a prática continuou, e em fevereiro de 2015 foi o Ministro da Educação de Dilma, Cid Gomes, que avisou: “Tem lá uns 400, 300 deputados que quanto pior, melhor pra eles, que querem que o governo esteja frágil, porque é a forma deles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele e aprovarem suas emendas impositivas.”

Semana passada foi a vez de um ministro de Bolsonaro, General Augusto Heleno, dar o aviso. Não o fez em público, mas numa queixa privada, para o Ministro Paulo Guedes, captada por um microfone indiscreto: “Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo todo. Fodam-se.”

Mais tarde, em nota, o Ministro da Segurança Institucional acrescentou: “Isso prejudica o Executivo e contraria os preceitos de um regime presidencialista. Se desejam o parlamentarismo, mudem a Constituição.”

A Constituição de 1988 é a origem disso. Logo que foi promulgada, entrevistei o Presidente José Sarney na TV e ele disse: “Esta Constituição torna o país ingovernável”. Em 2014, com 28 anos de observação, Sarney, que viveu a maior parte da carreira política no parlamento, acrescentou: “A compulsão de expandir poderes, torna o país ingovernável. O parlamento desmoralizou-se, instituiu práticas condenáveis.”

Eu cobri a Constituinte e sei como aconteceu. Estavam fazendo uma constituição parlamentar e o presidente Sarney se mobilizou contra. De consolo, fizeram uma emenda presidencial, dando ao presidente a Medida Provisória. E criaram uma constituição Frankenstein, na qual o presidente, que é responsável pelo governo, não tem os poderes para governar; quem tem esses poderes é o Congresso, que não tem a responsabilidade de governar.

O resultado é que para governar, os presidentes se entregaram aos partidos, cedendo ministérios e estatais, o que gerou a maior corrupção institucionalizada. Chamou-se isso de “Presidencialismo de Coalizão” – um eufemismo para esse Frankenstein.

O atual governo interrompeu o acesso do monstro e afetou as “práticas condenáveis” e "os próprios interesses”, aplicando a separação de poderes, prevista na Constituição. A situação foi agravada com as emendas impositivas – dê o dinheiro aos deputados ainda que falte para quem tem o ônus de cobrar os impostos e governar. E agora articulam a derrubada de um veto do presidente, para usar mais 30 bilhões, em ano de eleição municipal.
Gazeta do Povo

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

J.R.Guzzo: Bolsonaro não deveria abrir mais a boca para brigar com ninguém até 2022


O presidente Jair Bolsonaro, caso fosse capaz de parar para pensar cinco minutos no que é bom para ele e ruim para os seus inimigos, como fazem nove entre dez pessoas que estão num cargo como o seu, tomaria a partir de zero hora dessa quinta-feira a seguinte decisão: não abrir mais a boca para brigar com ninguém até o dia 31 de dezembro de 2022. Com ninguém? Isso mesmo: com ninguém, homem ou mulher, gente boa ou gente ruim, vivo ou morto. Mas e quando ele se sentir injuriado, injustiçado, indignado – vai aguentar quieto, como se tivesse sangue de barata? Isso mesmo, mais uma vez. Presidente da República não é um cidadão como qualquer outro. Não interessa o tipo de sangue que tem – A, B, AB, O-Universal ou de barata. O que interessa é que tem obrigações, responsabilidades e compromissos nos quais não pode falhar. Um deles é não sair batendo boca com ninguém.

Quem tem de responder a críticas, discordâncias, agressões, ofensas ou seja lá o que for não é Bolsonaro. É qualquer um – menos ele. O presidente tem muita gente para fazer isso. Tem um Ministério inteirinho. Tem deputados, senadores e governadores que jogam no seu time. Tem seus serviços de comunicação. Tem as redes sociais. Tem, em suma, todo mundo que está a seu favor. Se vai ele mesmo para o meio da rua e entra numa rixa atrás da outra, é porque quer e gosta de fazer isso. E como presidente, Bolsonaro não tem o direito de querer e gostar de baderna.

Esse atrito permanente, além disso, é uma coisa que não faz sentido. De um lado, só conforta as pessoas e as forças que mais o detestam. De outro, não o ajuda em nada. Mas o “público interno”, os bolsonaristas devotos, não vibra quando ele sai na mão com a mídia, a esquerda ou as figuras francamente detestáveis com quem vive rolando no chão? Pode ser; sabe lá o que os seus gênios da comunicação digital estão mandando que ele faça. Mas nessas horas Bolsonaro tem de lembrar que não é presidente só dos que votaram nele, e sim de todos os 200 milhões de brasileiros. É sua obrigação, junto a eles, manter a compostura, e não dar bananas.

Se ficasse quieto até o final do seu governo, só falando como um chefe de Estado, Bolsonaro iria tirar dos seus adversários a arma que mais gostam de usar – talvez, até, nem tenham outra. Ninguém vai crescer em cima dele discutindo pontos de doutrina socioeconômica, ou dizendo que é “fascista”, ou “misógino”, ou coisas que a população nem sabe o que são. Mas adianta alguma coisa falar isso? Não parece. Na porta por trás da qual deveriam estar as ideias de Bolsonaro, a visita bate, bate, bate – e ninguém responde.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Olavo e Stalin

Uma postagem de uma semana atrás onde Olavo ainda insiste em cogitar a hipótese da Terra ser plana.

Olavo de Carvalho disse em seu Facebook que “o esquerdismo é uma mutilação intelectual auto-imposta e, na maioria dos casos, incurável”. Muito bem, até concordo. Só que me ocorreu uma dúvida e, como Olavo foi comunista radical e filiado ao PCB, perguntei a ele se ele se curou - eu tenho certeza absoluta que não. É claro que ele não me respondeu. O silêncio é a resposta de praxe em quase todas as perguntas que o incomodam (isso quando ele não responde com uma meia dúzia de impropérios ou bloqueia de vez quem ousa inquiri-lo).

Vejam só. No stalinismo, notadamente no pós-guerra, nenhuma dimensão da existência humana podia ser admitida como sendo indiferente e todas estavam a serviço da política. Em cada caso - da política ao esporte, da filosofia à literatura, do cinema ao divertimento - não se reconhecia outra alternativa: quem não pertencia explícita e ativamente ao campo revolucionário e socialista, isto é, ao lado da União Soviética, situava-se, pelo menos objetivamente, no campo do inimigo, o do capitalismo explorador: o Mal. Desde a morte do profeta Maniqueu - filósofo persa do século III, que dividiu o mundo simplesmente entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo - o mundo não conhecia uma oposição doutrinária tão extremada entre o Bem e o Mal.

Posto isto, a minha certeza que Olavo não se “curou” do esquerdismo fica fácil de explicar e ainda mais fácil de ser constatada se alguém se der ao trabalho de acompanhar uma intriga dele com qualquer pessoa - ele vive de intrigas -, bastando observar que: 1) a argumentação dele sempre dá lugar a um ataque pessoal desqualificante; 2) tudo que o contradiz é considerado errado e quem o contradiz não é considerado como interlocutor, mas sim como um inimigo a ser eliminado, literalmente, e isso pode ser observado em qualquer discussão sobre qualquer assunto, seja político, científico, artistico, etc.. Ora, se isso não for o mais puro stalinismo, eu não sei o que é.

Ainda que seu discurso se assemelhe ao de um direitista empedernido, suas atitudes maniqueístas são a prova cabal do ranço comunista que Olavo carrega. Não é de admirar, até porque, se trata de uma personalidade egocêntrica doentia e instável - e lá se vão mais de 20 anos que o acompanho. O sujeito já foi comunista, astrólogo, dervixe (um tipo de islâmico sufista) e fundador de uma tariqa (confraria esotérica islâmica) no Brasil, filósofo auto-outorgado, professor idem sem diploma de magistério e hoje é um carola radical e místico capaz de defender o terraplanismo, afirmar que as músicas dos Beatles foram compostas por Theodor Adorno, dizer que Newton estava errado e que Einstein era um picareta plagiador de Poincaré.

E ainda tem muita gente que dá crédito total a ele...

Ricardo Froes



terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Querem cassar os direitos de Regina Duarte - JRGuzzo


Gazeta do Povo
Para além de toda a gritaria indignada de uma parte da classe artística brasileira, à beira de um ataque histérico com a nomeação de Regina Duarte para a Secretaria Especial de Cultura, há um fato indiscutível e chocante: os colegas de profissão da atriz estão negando a ela o exercício livre de seus direitos civis. É algo realmente extraordinário.

Mais de 60 anos após as lutas de Martin Luther King, que mudaram os Estados Unidos para sempre ao provar para a sociedade americana e para o resto do mundo que todos os cidadãos de um país têm direitos naturais que não podem ser negados por ninguém e por nenhum motivo, estamos de volta, no Brasil de 2020, ao Alabama de 1960.

A “classe artística brasileira”, ou mais exatamente os que fazem barulho na mídia, está dizendo que Regina Duarte não pode exercer o seu direito constitucional de aceitar um convite para o ministério do governo Jair Bolsonaro.

Assim como um negro americano não podia ocupar cargos públicos pelo fato de ser negro, Regina Duarte não pode ser ministra pelo fato de ser atriz – e atrizes, na visão das nossas classes “intelectuais”, não podem trabalhar num governo de direita, porque não têm o direito, garantido por lei, de ser de direita. Regina é de direita? Muito bem: e o que resto do mundo tem a ver com isso? A Constituição do Brasil diz que ela tem o direito de pensar o que lhe der na telha.

Nenhum dos indignados com a nomeação de Regina Duarte se lembrou de levar em conta que o governo de Jair Bolsonaro é legal, legítimo e constitucional. Foi eleito democraticamente, dentro de todas as regras em vigor, em eleições livres, por quase 58 milhões de votos – a maioria absoluta, de longe, dos que votaram na eleição presidencial de 2018.

O que há de errado em aceitar um convite para trabalhar nesse governo? Se você é contra o governo, vá adiante e seja contra; mas você não pode negar ao cidadão que está ao seu lado o direito de ser a favor. Ao agir como agiu no caso de Regina Duarte, a “categoria artística” mostrou que não aceita, simplesmente, as regras de uma democracia. Não há remédio conhecido para isso: quem não aceita as regras da democracia é a favor de ditaduras. O resto é argumentação hipócrita e falsificada.

Se Regina Duarte vai ou não dar certo como secretária da Cultura já são outros quinhentos. A impressão, pelos fatos disponíveis hoje, é que isso é uma missão impossível. Talvez possa se demostrar que não, que a missão seja possível – mas, nesse caso, será preciso fazer a demonstração concreta.

É, mais ou menos, como nomear um cidadão para o Ministério dos Discos Voadores – que raios um filho de Deus (uma filha, no caso), pode fazer de útil num cargo desses? O Brasil não precisa de uma Secretaria, de um Ministério da Cultura. Precisa de cultura – que não apenas é outra coisa, mas é algo que a intervenção do governo ativamente atrapalha.

O Brasil precisa de um serviço capaz de tapar goteiras, instalar ar condicionado e evitar incêndios em seus museus, bibliotecas e milhares de instalações dedicadas à cultura e entregues ao mais miserável abandono. Precisa impedir que suas construções históricas venham abaixo. Precisa salvar as estátuas expostas em praça pública. Precisa de todas essas coisas que você sabe tão bem quais são – e nenhuma delas tem nada a ver com a Secretaria Especial de Cultura.

Mas não é isso que se discute. O que se quer é cassar, em público, os direitos de uma cidadã brasileira livre. É muito mais que ódio, apenas.