sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Os gringos não entendem nada de agronegócio e querem dar pitaco - JRGuzzo

Você já viu, pelo menos em fotos, um pé de soja plantado no estado do Paraná? Já viu um pé de milho? Melhor ainda: é possível fazer uma viagem de 50 quilômetros entre a maioria das cidades paranaenses, ou qualquer delas, sem ver a terra plenamente ocupada por lavouras de alguma coisa aproveitável para a alimentação? Pois então fique sabendo: isso que você pode ver todos os dias, e viu durante toda a sua vida, é um segredo fechado a 777 chaves para todo o sujeito que viva hoje num país de primeiro mundo.

Na Europa, nos Estados Unidos e nas outras franjas desenvolvidas que sobram do resto do planeta Terra, as pessoas estão convencidas que toda a agricultura e a produção de carnes do Brasil são feitas na Amazônia – que, aliás, está “ardendo em chamas”, como garantiu o presidente da França, Emmanuel Macron. Estão tocando fogo na floresta, acham eles todos, porque os brasileiros precisam de mais terra ainda para plantar mais, criar mais boi, mais porco e mais frango, e ganhar mais dinheiro.

Para piorar, há também a certeza, no mundo que se tem por “civilizado”, que toda a agropecuária brasileira só se tornou a primeira maior do planeta (junto com a americana) porque, além de queimar sua mata virgem, usa “agrotóxicos”. Além de nunca ter lhes ocorrido que dentro dos 8,5 milhões de km² do Brasil exista algum tipo de atividade rural fora da Amazônia, estão certos de que até hoje os brasileiros não conhecem a existência do trator, da irrigação e da agronomia.

Nunca ouviram falar em genética, tecnologia, satélites, GPS, meteorologia, veterinária, manejo de solo, colheitadeiras – enfim, não têm ideia do que sejam tecnologia ou produtividade. Com essa vida de treva, só sabem produzir soterrando a “Amazônia” com venenos químicos “banidos” na Europa e nos Estados Unidos. Conclusão: somos um país atrasado demais para termos fazendas (“fazendas aqui, florestas lá”, é o grande lema ambientalista do momento) e o agronegócio brasileiro é uma ameaça para o mundo.

Dentro de tal visão das coisas, o Paraná, por exemplo, simplesmente não pode existir. Mas há provas materiais de que o Paraná existe, sim – e aí, como se explica um negócio desses? Bastaria a visita de um comitê qualquer de autoridades confiáveis do primeiro mundo, e mais uma duas ou três horas de leitura séria, para se chegar à conclusão de que existe algo profundamente errado com todos os fenômenos descritos acima.

O comitê e os leitores iriam descobrir, então, que o Paraná, com 200.000 quilômetros quadrados de extensão, e a 3.000 quilômetros de distância da Amazônia, é um dos maiores centros agrícolas do mundo. Na safra de verão de 2019, e na safra de outono/inverno 2019-2020, deverá produzir cerca de 40 milhões de toneladas de grãos – mais de 15% do total colhido pelo Brasil, o maior produtor agrícola da Terra, com 240 milhões de toneladas. É um aumento de quase 30% sobre a colheita anterior – e praticamente na mesma área plantada O nome disso é produtividade.

O Paraná, sozinho, tem o tamanho de cinco Holandas, ou de 60% de uma Alemanha inteira – não é razoável, assim, que seja integralmente desconhecido nas nações mais cultas do sistema solar. Mas o que é razoável, hoje em dia, na militância ambiental que envolve não apenas gente de bom coração, mas governos, organizações internacionais, ONGs bem financiadas, universidades, empresas com interesses econômicos de porte mundial? Nada é razoável nesse bioma.

É possível saber com um mínimo de esforço (e muita gente sabe) que 70% de toda a produção do campo no Brasil vem de quatro Estados – Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás, sendo que o Paraná, especificamente, ocupa 10% da área cultivada em todo o país. O que a Amazônia tem a ver com isso? Nada, salvo o fato de que uma parte do Mato Grosso pertence à “Amazônia Legal” – uma invenção burocrática que nada tem a ver com a ciência geográfica, e sim com truques fiscais para se pagar menos imposto.

A ignorância divide-se basicamente em duas modalidades: a involuntária e a voluntária. A primeira é a que leva o cidadão comum dos países ricos, mesmo os de boa formação cultural, a desconhecerem fatos rudimentares sobre o Brasil antes de darem suas opiniões a respeito de uma suposição realmente extraordinária: a de que a produção brasileira de alimentos não apenas é uma coisa do mal, mas um perigo para a segurança da humanidade. Ela é fruto, basicamente, da preguiça de pensar. Já a outra modalidade de ignorância, a voluntária, não tem nada de tolice ou desatenção dentro de si. Tem apenas má fé – e propósitos muito bem definidos. (Gazeta do Povo)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O Jogo dos 45 Erros - Democracia em Vertigem


Luan Sperandio - Gazeta do Povo

No documentário Democracia em Vertigem, Petra Costa não adulterou apenas fotos para mostrar que a guerrilha urbana de esquerda era inofensiva nos anos 1970. Ao longo de mais de duas horas, praticamente a cada três ou quatro frases o espectador encontra uma omissão importante, uma falsa narrativa ou uma indução conspiratória.

Em meio a isso, há registros caricatos de um ou outro crítico ao PT, falas emocionadas da mãe da diretora sobre Dilma, e Lula se comparando a Jesus Cristo.

Mas o filme cumpre seu papel: o de ignorar fatos, dados e evidências para vender ao mundo a visão que o PT tem sobre o impeachment, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro.

Aqui estão as 45 inconsistências do filme.

1. Dimensão das manifestações a favor do impeachment de Dilma
Houve diversas manifestações populares contra o governo de Dilma Rousseff, especialmente em cinco oportunidades. O protesto do dia 13 de março de 2016 foi o maior ato político da história do país, superando as Diretas Já. O documentário mostra alguns poucos reacionários aleatórios, omite a real dimensão dos protestos e o quanto a saída da presidente mais impopular da história era desejada pelos brasileiros.

2. “Não havia expectativa de uma prisão tão rápida. Pegou todo mundo de surpresa”
O filme diz que “seu processo [o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] chega à segunda instância mais rápido do que qualquer outro da Lava Jato”. Não é bem assim. Um levantamento feito pelo economista Carlos Goés mostrou que o período de tramitação do processo dele entre a condenação na primeira e a segunda instância do TRF-4 não foi atípica. “Olhando os dados, mesmo somente para aqueles que estão restritos aos da Lava Jato, não dá pra dizer que há nada de extraordinário na tramitação do processo do Lula”, afirmou.

3. “Entre os 443 parlamentares, apenas 2 eram da classe trabalhadora”
Petra diz que Lula decidiu se tornar político quando viu que apenas 2 entre 443 parlamentares eram da classe trabalhadora. Cegamente, confia na fala de Lula, não a checa (uma metodologia que domina todas as duas horas de documentário). A frase muito provavelmente é falsa, já que nunca houve 443 parlamentares no Congresso.

4. “O PT representava a esperança de que as desigualdades do país seriam enfrentadas”
Um estudo feito pelo World Wealth and Income Database apontou que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. O crescimento econômico verificado no país teve pouco impacto na redução da desigualdade, porque beneficiou principalmente os 10% mais ricos.

5. “Com Lula, a taxa de desemprego atinge o menor índice da história”
A dissertação do economista Rafael Baccioti mostrou que as taxas de desemprego registradas no Brasil nos anos 1980, 1970 e 1950 foram menores do que durante o governo Lula, com números entre 2% e 3%.

6. Mensalão
No julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal, ficou claro que o Mensalão foi um esquema de desvio de dinheiro público cuja finalidade era a compra de apoio parlamentar no Congresso Nacional. Tudo para favorecer a aprovação de projetos de interesse do governo Lula.

7. Dilma perdeu prestígio porque atacou bancos e juros
Quando Dilma assumiu a presidência, a taxa Selic estava em menos de 8,75%. Ao final de 2011, ela chegou a 12,5%, quando passou a cair até 7,25%. Não deu certo, os juros voltaram a subir e passaram dos 14%. Só voltaram a cair quando a equipe econômica de Michel Temer assumiu. Dilma discursava contra rentistas, mas seu governo foi o que mais os favoreceu.

8. “Cotas racistas”
O documentário mostra uma manifestante que pede a saída de Dilma e diz que o PT instituiu “cotas racistas”. Mas uma pesquisa de 2013 realizada pelo Ibope apontou que 62% dos brasileiros eram a favor dos três tipos de cotas no acesso a universidades: baixa renda, escola pública e raciais. Quando analisadas apenas a reserva de vagas para alunos de escola pública e pobres, o percentual chegava a 77%.

9. Bolsa Família foi criado por Lula
O documentário sugere que a ajuda aos mais pobres foi uma benevolência exclusiva dos governos petistas e ignora que houve programas de distribuição de renda antes dos governos do PT. Em 2001, o próprio Lula criticou o Bolsa Escola de FHC, chamando-o de “esmola”.

10. Michel Temer foi um traidor desde o início do mandato
Quando a onda de protestos anti-Dilma varreu o país no início de 2015, Michel Temer escreveu em seu Twitter: “O impeachment é impensável, geraria uma crise institucional. Não tem base jurídica e nem política”. Ao longo daquele ano, ele assumiu a articulação política do governo e desempenhou bem a tarefa. Quem afirmou isso foi o então deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos vice-líderes do governo Dilma na Câmara.

11. “Dilma tirou cargos do PMDB”
A rebelião de Temer se deu, segundo o documentário, porque Dilma tentou restringir a influência do PMDB no governo. Não foi bem assim. Em 12 de março de 2016, ele conseguiu evitar que o partido rompesse com o governo. Quatro dias mais tarde, a presidente nomeou Mauro Lopes ministro da Aviação Civil.

12. Crise econômica
Por algum motivo, Petra não achou que era uma boa ideia explicar que as políticas econômicas da Era PT levaram à maior crise econômica da história brasileira e a mais de 10 milhões de desempregados. Só depois de meia hora é que ter havido alguma crise econômica é mencionada, sem explicar suas dimensões, é claro.

13. Petrobras espionada pela CIA
Documentos vazados em 2013 indicaram que o governo dos Estados Unidos teria espionado a Petrobras. Apesar da gravidade, é um enorme salto argumentativo deduzir que desejavam o impeachment para poder pôr as mãos na companhia.

14. “Moro: homem treinado nos Estados Unidos”
O então juiz participou em 2007 do International Visitors Leadership Program, o mesmo programa do qual participou… Dilma Rousseff em 1992.

15. “Aécio não aceita o resultado”
O documentário diz que Aécio Neves ele não aceitou o resultado da eleição e por isso entrou no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Dilma-Temer. Mas o próprio deputado, antes senador, admitiu que entrou com a ação apenas para “encher o saco” do PT.

16. “Aécio apoia o impeachment”
Quando os pedidos de impeachment de Dilma começaram, Aécio Neves rejeitou a tese. Aécio decidiu aderir ao movimento apenas em 2016, quando compareceu às manifestações em São Paulo e foi hostilizado na Avenida Paulista.

17. “Grupos de direita usam algoritmos de redes sociais”
Estudos mais recentes mostram que a influência de algoritmos de redes sociais para a polarização política foi superestimada. Além disso, militantes e grupos de esquerda usam as mesmas arenas do debate público que a direita.

18. Crise internacional
O documentário fala que após uma “queda global em commodities e série de erros econômicos o país entrou em crise”. Mas um relatório do FMI mostra que 183 dos 192 países analisados registraram crescimento econômico superior ao brasileiro entre 2015 e 2016. De acordo com estudo do economista da FGV Marcel Balassiano, mais de 90% dos países do mundo cresceram mais do que o Brasil entre 2011 e 2018.

19. Dilma responsável por todos os problemas do país
Para Petra, quem era a favor do impeachment “acreditava que a presidente era a responsável por todos os problemas do país”. Sem nenhum dado ou pesquisa, é só a opinião dela mesma. Um estudo do professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Reinaldo Gonçalves concluiu que cerca de 90% do resultado negativo do desempenho econômico durante o governo Dilma se deu a partir de “falhas nacionais”, isto é, podem ser atribuídas à forma como o país foi conduzido.

20. Fraude fiscal é pior que corrupção
Dilma sofreu impeachment porque o Congresso considerou crime de responsabilidade as fraudes fiscais e contábeis protagonizadas pelo governo. Chamá-las de “pedaladas fiscais” é diminuir a magnitude delas e suas consequências perversas. O economista Carlos Goés explicou a gravidade dessas fraudes.

21. Julgamento do Tribunal de Contas
O pedido de impeachment foi baseado no julgamento do Tribunal de Contas da União, que rejeitou as contas de Dilma Rousseff em outubro de 2015 devido às fraudes fiscais. Nada disso é mencionado no documentário.

22. “Precisamos de uma comissão internacional”
“Por que não se cria uma comissão internacional de direito público para analisar se teve fraude fiscal ou não?”, pergunta Lula no documentário. Simples: é para isso que existe o TCU, e ele rejeitou as contas de Dilma.

23. Quando começou a queda de Dilma?
Para o então deputado federal Jean Wyllys (PSOL), a queda de Dilma começou no Dia do Trabalho de 2013, quando a presidente teria discursado dizendo que ricos, banqueiros e rentistas tinham de “pagar pela crise”. O discurso, na verdade, tratou da correção da tabela do Imposto de Renda e de reajuste dos valores do Bolsa Família. Não faz sentido acreditar que empresários manipulariam os balanços de suas próprias empresas, com muitos indo a falência, para prejudicar uma presidente.

24. Discurso de posse de Michel Temer
A edição do documentário sugere que Temer estaria atentando contra o estado laico ao afirmar que seu governo seria “um ato religioso”. Mas o que ele realmente disse foi “o que nós queremos fazer agora, com o Brasil, é um ato religioso, é um ato de religação de toda a sociedade brasileira com os valores fundamentais do nosso País”. Era uma referência a unificar a sociedade, dividida e polarizada após o impeachment.

25. O acordão de Romero Jucá e Sérgio Machado
Em áudio vazado de Romero Jucá e Sérgio Machado, o então senador afirma que era mais fácil mudar de governo e estancar a sangria, fazer um acordo nacional. Petra afirma que essa seria a motivação do impeachment. Mas omite maldosamente o trecho em que Machado revela: “Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo”. O suposto acordão era para proteger o PT também.

26. Arrependimento de Lula
Quando Petra pergunta a Lula se ele se arrependeria de algo, ele lamenta não ter enviado projeto ao Congresso “para regular os meios de comunicação”. Porém, em 2004 seu governo encaminhou um projeto ao Congresso para criar um conselho de classe com poderes para punir jornalistas. A proposta não foi aprovada.

27. Liberdade de imprensa do PT
Lula se gaba de “fazer o que nós fizemos” com liberdade de imprensa, mas não foi bem assim. Em 2004, por exemplo, Lula pediu a expulsão do jornalista americano Larry Rohter porque ele escreveu que o ex-presidente nutria certo apreço por bebidas alcoólicas, sem falar nos milhões pagos a blogueiros para que eles defendessem o governo.

28. Liberdade para legislar
Lula também gabou-se dos governos do PT terem deixado “o Congresso funcionando livremente”. Mas foi sob o seu próprio governo que ocorreu o Mensalão, justamente para evitar que congressistas se opusessem livremente aos projetos do governo.

29. Quais as acusações contra Lula?
O documentário afirma que, depois de dois anos de investigação, a única “acusação de fato” era de que Lula teria recebido um triplex de uma empreiteira. Só isso. Ele ignora que havia diversos outros processos contra o ex-presidente, inclusive alguns dos quais ele foi inocentado. Lula foi condenado em dois processos por corrupção e lavagem de dinheiro, além de ser réu em seis outras ações penais.

30. Marisa morre 4 meses após ser acusada
O documentário sugere que a ex-esposa de Lula, Marisa Letícia, morreu em consequência da perseguição sofrida por ele e pela família. O que o filme não conta é que o ex-presidente atribuiu a Marisa Letícia a responsabilidade pelos aluguéis não pagos em um imóvel que o MPF afirma ser de fachada e adquirido com dinheiro da Odebrecht.

31. Lula liderava pesquisas, mas…
Em 2018, Lula liderava as pesquisas para a Presidência. Mas também tinha a maior rejeição entre todos os candidatos, com 31% (tecnicamente empatado com Jair Bolsonaro). Uma eventual vitória não seria fácil.

32. Lava Jato x economia
Em uma audiência, Lula pergunta ao juiz Sergio Moro se ele “se sente responsável pela Lava Jato ter destruído a indústria de construção civil deste país?” Mais uma narrativa petista: a de que a Lava Jato prejudicou a economia no governo Dilma. Estudos, porém, mostram que integridade e combate à corrupção ajudam o ambiente de negócios e a economia.

33.Votos “esdrúxulos” dos parlamentares
O documentário mostra diversos parlamentares usando motivos alheios à acusação para justificar o voto pelo impeachment de Dilma e, assim, sugere que o procesos foi injusto. Mas o impeachment não é um instituto somente jurídico, mas também político. O teor dos votos no impeachment de Fernando Collor foi similar.

34. Condução coercitiva de Lula
O documentário critica a condução coercitiva de Lula para um depoimento, apesar de afirmar que ele nunca havia se negado a testemunhar na Polícia Federal. Mas o ex-juiz Sergio Moro justificou o pedido dizendo que a condução coercitiva era necessária para evitar maiores tumultos e transtornos.

35. Conversa vazada entre Dilma e Lula
O documentário pormenoriza o teor da conversa e foca na ação de Sergio Moro, que posteriormente foi anulada pelo ministro do STF Teori Zavascki. Ambos foram processados pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot por obstrução de justiça, mas foram absolvidos.

36. Conversa entre Temer e Joesley Batista
O documentário edita maliciosamente um diálogo que sugere que o então presidente Michel Temer teria apoiado possível obstrução de justiça feita pelo empresário Joesley Batista a fim de Eduardo Cunha não delatá-los. O ex-presidente foi absolvido em 2019 porque a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal foi considerada “frágil”. O laudo pericial do áudio apontou interrupções, ruídos e falas ininteligíveis que, suprimidos, impediram compreender o sentido completo da conversa.

37. “O Congresso muda de posição. Temer não deve ser investigado?”
O documentário critica o fato de parlamentares que antes se diziam defensores do combate à corrupção terem protegido Michel Temer das investigações. Mas as investigações contra Temer continuaram depois que ele deixou o cargo. Temer até foi preso por alguns dias.

38. “Temer fez tudo que eles queriam, leiloando reservas de petróleo para empresas estrangeiras”
A menção do documentário se refere à mudança do modelo de concessão do Pré-Sal. Antes em regime de partilha, o modelo mudou para concessão. Mas, desde 2015, integrantes da equipe ministerial de Dilma eram favoráveis à alteração. Tanto o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, quanto o da Fazenda, Joaquim Levy, defenderam mudanças na legislação.

39. “Temer fez tudo que eles queriam, enfraquecendo leis que proíbem o trabalho escravo”
Em 2017 o Ministério Público do Trabalho editou uma portaria que buscava tornar regras mais objetivas a fim de coibir eventuais arbitrariedades de agentes da Administração Pública. Isso porque mais de 90% das denúncias acerca de trabalho escravo eram julgadas improcedentes ao final do processo. O documentário não mostra que, por decisão da Ministra do STF Rosa Weber, a norma foi suspensa e nunca entrou em vigor.

40. “Temer fez tudo que eles queriam, aprovando medidas de austeridade que prejudicariam os mais pobres”
As medidas de austeridade começaram com Dilma Rousseff logo após vencida a eleição em 2014, e se intensificaram em 2015, ano em que foram cortados 87% do valor dos programas sociais.

41. Dimensão das manifestações contra Temer
Segundo estimativas das polícias militares, os protestos contra Dilma reuniram, em centenas de cidades, 2,4 milhões de pessoas em 15 de março de 2015 e 3,6 milhões em 13 de março de 2016. Já as manifestações pedindo o “Fora Temer” reuniram, em setembro de 2016, 48 mil manifestantes.

42. Sergio Moro tirou Lula da eleição presidencial
Uma jornalista fala, em inglês, que a prisão de Lula decretada pelo Sérgio Moro o tirou de vez da eleição presidencial. Não é verdade: a suspensão dos direitos políticos se dá a partir da condenação em segunda instância por causa da Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo próprio Lula.

43. E a facada?
O documentário que fala sobre polarização e enfraquecimento da democracia ignorou uma tentativa de assassinato contra o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral.

44. Um passado clandestino falso para seus pais
O documentário conta um pouco da história familiar de Petra e os mostra militantes de esquerda que atuaram na clandestinidade durante a ditadura. Mas, de acordo com uma análise do jornalista Astier Basílio em O tempo do Poeira: História e memórias do jornal e do movimento estudantil da UEL nos anos 1970 2018), “todos os anos, os pais de Petra visitavam a família em Belo Horizonte. Era, portanto, uma clandestinidade que permitia férias.”

45. A mãe da diretora não é alheia aos negócios da empreiteira da família
A mãe de Petra, Marilia Andrade, não é uma comentarista política neutra e alheia aos negócios da família como o documentário faz parecer. Ela é uma das acionistas da Andrade Gutierrez e sempre atuou nas empresas do grupo.No jantar de 60 anos do grupo, por exemplo, Lula e Dilma estavam presentes. Na ocasião, ela aproveitou para fazer lobby para que a Presidência liberasse a venda de queijo cru em Minas Gerais.

Enfim
Tudo bem Petra se declarar petista desde sempre e o documentário transmitir a visão político-partidária dela do início ao fim, com certa devoção messiânica e sebastianismo em relação a Dilma e Lula.

“No Brasil, até o passado é incerto”, já disse o ex-ministro Pedro Malan. E é nesse ritmo que Democracia em Vertigem tenta reescrever a história ao ignorar, por mais de duas cansativas horas, que a maior ameaça recente a democracia brasileira foi, na verdade, protagonizada pelo Partido dos Trabalhadores.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Pesquisa - Religiões no Brasil


Pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira 13/1 pelo jornal "Folha de S.Paulo" aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Ainda de acordo com o levantamento, as mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% entre os católicos.

A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Religião dos brasileiros
Católica: 50%
Evangélica: 31%
Não tem religião: 10%
Espírita: 3%
Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2%
Outra: 2%
Ateu: 1%
Judaica: 0,3%

Religião por sexo
Católicos:
Mulher: 51%
Homem: 49%

Evangélicos:
Mulher: 58%
Homem: 42%

Religião por cor
Católicos:
Parda: 41%
Branca: 36%
Preta: 14%
Amarela: 2%
Indígena: 2%
Outras: 4%

Evangélicos:
Parda: 43%
Branca: 30%
Preta: 16%
Amarela: 3%
Indígena: 2%
Outras: 5%

Religião por idade
Católicos:
16 a 24 anos: 13%
25 a 34 anos: 17%
35 a 44 anos: 18%
45 a 59 anos: 26%
60 anos ou mais: 25%

Evangélicos:
16 a 24 anos: 19%
25 a 34 anos: 21%
35 a 44 anos: 22%
45 a 59 anos: 23%
60 anos ou mais: 16%

Religião por escolaridade
Católicos
Fundamental: 38%
Médio: 42%
Superior: 20%

Evangélicos
Fundamental: 35%
Médio: 49%
Superior: 15%

Renda
Católicos
Até 2 salários mínimos: 46%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 9%
Mais de 10 salários mínimos: 2%

Evangélicos
Até 2 salários mínimos: 48%
De 2 a 3 salários mínimos: 21%
De 3 a 5 salários mínimos: 17%
de 5 a 10 salários mínimos: 7%
Mais de 10 salários mínimos: 2%

Região do país
Católicos
Sudeste: 45%
Sul: 53%
Nordeste: 59%
Centro-Oeste: 49%
Norte: 50%

Evangélicos
Sudeste: 32%
Sul: 30%
Nordeste: 27%
Centro-Oeste: 33%
Norte: 39%

domingo, 12 de janeiro de 2020

Nexo zero - JRGuzzo


Uma das mais eficazes maneiras de perder hoje o seu tempo é ler o que escrevem ou ouvir o que dizem os “especialistas”. Problema de solução simples, então; bastaria ir se desviando dessa turma, a cada vez que um deles passa pela sua frente, e aproveitar o dia com alguma outra coisa, pois qualquer coisa será mais útil. É fácil, claro, escrever artigos dando sugestões como essa. Mas como é que um cidadão normal, hoje em dia, consegue evitar na prática um “especialista”, se praticamente todas as pessoas a quem recorre para ficar melhor informado são “especialistas”? É um problema e tanto. Como ocorria antigamente com os comunistas, que estavam escondidos debaixo de cada cama do Brasil, ou mesmo do mundo, agora quem está infiltrado em sua casa, pronto para saltar da primeira gaveta, é o “especialista”. Você pode correr dele. Mas ele vai atrás de você.

O bioma natural do “especialista”, digamos assim, é a universidade – mas o seu hábitat preferido são as mesas-redondas de televisão, programas de rádio, entrevistas de jornal e os textos ou vídeos que aparecem nas redes sociais. Não dá para chegar perto de nada disso sem cair direto num “especialista”. Ele vai lhe dizer, com segurança científica, o que significa qualquer coisa que esteja acontecendo na calota polar, em São José dos Ausentes ou na face oculta da Lua – e praticamente nada do que ensinar servirá para qualquer propósito útil. Em geral é o pior tipo que alguém poderia procurar para tentar entender algum assunto: ou não sabe nada sobre o que está falando, ou sabe alguma coisa, mas não sabe explicar, ou expõe apenas os seus próprios desejos de que isso seja assim ou assado. Especializam-se, no fundo, em ser “especialistas”.

No momento, e durante ainda mais algum tempo, os “especialistas” estão nos explicando o que acontece no Oriente Médio. Tem sido um clássico no gênero. O público foi informado de que o presidente Donald Trump estava praticamente começando a Terceira Guerra Mundial, que o Irã iria ganhar (ou já ganhou) o conflito com os Estados Unidos e que, no fim, quem se deu bem mesmo foi a tirania dos aiatolás. Não houve guerra mundial nenhuma – aliás, não houve guerra nem entre os dois. Os iranianos continuam se matando apenas entre si próprios e seus vizinhos e a ideia de que poderiam ganhar uma guerra nuclear com os Estados Unidos foi adiada para um futuro ainda não determinado. Não se trata de um momento pouco feliz dos “especialistas” – é assim mesmo que eles são, em sua grande maioria, e na grande maioria dos assuntos sobre os quais expedem os seus decretos. Já falaram, em outras ocasiões recentes, que o ministro Sérgio Moro estava morto e enterrado depois das gravações roubadas de suas conversas. Atribuíram a queda superior a 20% nos homicídios, em 2019, à iniciativa dos homicidas, ou algo assim. Julgaram que o juro baixo era um problema. Chegaram a dizer, para mostrar os perigos extremos de uma maior liberalização na compra de armas, que o tiro de um fuzil de 5,56 milímetros podia atravessar de uma vez só 12 pessoas colocadas lado a lado numa fila. Nexo? Zero.

Daria para encher esta edição de domingo, inteirinha, com as lições que recebemos de especialistas com dois anos de experiência após a faculdade, de cientistas que jamais escreveram uma linha sobre qualquer tema, de qualquer ciência, ou de juristas que foram reprovados no concurso público para a magistratura.

Como dizia Oscar Wilde, mais da metade da sua cultura depende daquilo que você não lê – e isso na época dele, há mais de 100 anos, quando não havia ninguém escrevendo nas redes sociais. Imaginem agora.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Os 20 maiores avanços tecnológicos do Século XXI


Alexander Hammond 

Com a década de 2020 chegando, agora é o momento perfeito para refletir sobre os imensos avanços tecnológicos que a humanidade fez desde o início do novo milênio.

Este artigo explora, em nenhuma ordem específica, 20 dos avanços tecnológicos mais significativos que fizemos nos últimos 20 anos.

Smartphones: os telefones celulares existiam antes do século XXI. No entanto, nos últimos 20 anos, suas capacidades melhoraram enormemente. Em junho de 2007, a Apple lançou o iPhone, o primeiro smartphone touchscreen com apelo de massa. Muitas outras empresas se inspiraram no iPhone. Como conseqüência, os smartphones se tornaram parte integrante da vida cotidiana de bilhões de pessoas em todo o mundo. Hoje tiramos fotos, dirigimos sem mapas, pedimos comida, jogamos, mandamos mensagens para amigos, ouvimos música… tudo em nossos smartphones. Ah, e você também pode usá-los para ligar para as pessoas.

Flash drives: primeiramente vendidos pela IBM em 2000, os flash drives USB permitem armazenar facilmente arquivos, fotos ou vídeos com uma capacidade de armazenamento tão grande que seria impossível apenas algumas décadas atrás. Hoje, uma unidade flash de 128 GB, disponível por menos de US$ 20 na Amazon, tem mais de 80.000 vezes a capacidade de armazenamento de um disquete de 1,44 MB, que foi o tipo de disco de armazenamento mais popular nos anos 90.

Skype: lançado em agosto de 2003, o Skype transformou a maneira como as pessoas se comunicam através das fronteiras. Antes do Skype, telefonar para amigos ou familiares no exterior custava muito dinheiro. Hoje, falar com pessoas do outro lado do mundo, ou mesmo fazer videochamadas com elas, é praticamente gratuito.

Google: o mecanismo de busca do Google estreou no final dos anos 90, mas a empresa tornou-se pública em 2004, levando a um crescimento colossal. O Google revolucionou a maneira como as pessoas pesquisam informações online. A cada hora, existem mais de 228 milhões de pesquisas no Google. Hoje, o Google faz parte da Alphabet Inc., uma empresa que oferece dezenas de serviços, como traduções, Gmail, Docs, Chrome e muito mais.

Google Maps: em fevereiro de 2005, o Google lançou seu serviço de mapeamento, que mudou a maneira como muitas pessoas viajam. Com o aplicativo disponível em praticamente todos os smartphones, o Google Maps tornou praticamente impossível se perder. É fácil esquecer que, apenas duas décadas atrás, a maioria das viagens envolvia um extenso planejamento de rotas, com mapas em papel quase sempre necessários ao se aventurar em lugares desconhecidos.

Projeto Genoma Humano: Em abril de 2003, os cientistas sequenciaram com sucesso todo o genoma humano. Através do sequenciamento de nossos aproximadamente 23.000 genes, o projeto lançou luz sobre muitos campos científicos diferentes, incluindo tratamento de doenças, migração humana, evolução e medicina molecular.

YouTube: em maio de 2005, o primeiro vídeo foi enviado para o que hoje é o site de compartilhamento de vídeos mais popular do mundo. Das palestras da Universidade de Harvard sobre mecânica quântica e episódios de TV favoritos aos tutoriais de "como fazer" e vídeos engraçados de gatos, conteúdo quase infinito pode ser transmitido no YouTube gratuitamente.

Grafeno: em 2004, pesquisadores da Universidade de Manchester se tornaram os primeiros cientistas a isolar o grafeno. O grafeno é um alótropo de carbono com a espessura de um átomo que pode ser isolado do grafite. Embora os humanos usem grafite desde a era neolítica, o isolamento do grafeno era anteriormente impossível. Com suas propriedades condutoras, transparentes e flexíveis, o grafeno tem um enorme potencial para criar painéis solares, sistemas de filtragem de água e até defesas mais eficientes contra mosquitos.

Bluetooth: embora a tecnologia Bluetooth tenha sido revelada oficialmente em 1999, foi apenas no início dos anos 2000 que os fabricantes começaram a adotar o Bluetooth para uso em computadores e telefones celulares. Hoje, o Bluetooth está presente em uma ampla gama de dispositivos e se tornou parte integrante do dia-a-dia de muitas pessoas.

Facebook: Desenvolvido pela primeira vez em 2004, o Facebook não foi o primeiro site de mídia social. Devido à sua simplicidade de uso, no entanto, o Facebook rapidamente ultrapassou as outras redes sociais existentes, como o Friendster e o Myspace. Com 2,41 bilhões de usuários ativos por mês (quase um terço da população mundial), o Facebook transformou a maneira como bilhões de pessoas compartilham notícias e experiências pessoais.

Mars Rover: Lançado em novembro de 2011, o Curiosity está procurando sinais de habitabilidade em Marte. Em 2014, o veículo espacial fez uma das maiores descobertas espaciais deste milênio, quando encontrou água sob a superfície do planeta vermelho. O trabalho do Curiosity pode ajudar os humanos a se tornar uma espécie interplanetária em apenas algumas décadas.

Carros elétricos: Embora os carros elétricos não sejam uma invenção do século XXI, foi somente na década de 2000 que esses veículos passaram a ser construídos em larga escala. Os carros elétricos disponíveis comercialmente, como o Tesla Roadster ou o Nissan Leaf, podem ser conectados a qualquer tomada elétrica para carregar. Eles não precisam de combustíveis fósseis para funcionar. Embora ainda sejam considerados uma moda passageira para alguns, os carros elétricos estão se tornando cada vez mais populares, com mais de 1,5 milhão de unidades vendidas em 2018.

Carros sem motorista: em agosto de 2012, o Google anunciou que seus veículos automatizados haviam completado quase 500 mil quilômetros sem acidentes. Embora os carros autônomos do Google sejam os mais populares no momento, quase todos os fabricantes de automóveis criaram ou planejam desenvolver carros automatizados. Atualmente, esses carros estão em fase de testes, mas, desde que a tecnologia não seja prejudicada por regulamentos excessivamente zelosos, os carros automatizados provavelmente estarão disponíveis comercialmente nos próximos anos.

O Grande Colisor de Hádrons (LHC): com seu primeiro teste realizado em 2013, o LHC se tornou o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo. É também a maior máquina do mundo. O LHC permite que os cientistas realizem experimentos sobre algumas das teorias mais complexas da física. Sua descoberta mais importante até agora é a partícula de Higgs-Boson. A descoberta dessa partícula dá forte apoio ao "modelo padrão da física de partículas", que descreve a maioria das forças fundamentais do universo.

Coração Artificial AbioCor: Em 2001, o coração artificial AbioCor, criado pela empresa AbioMed, com sede em Massachusetts, tornou-se o primeiro coração artificial a substituir com sucesso um coração humano em procedimentos de transplante cardíaco. O coração artificial AbioCor, ao contrário dos corações artificiais anteriores, não precisa de fios intrusivos que aumentam a probabilidade de infecção e morte.

Impressão 3D: embora as impressoras 3D como as conhecemos hoje tenham começado na década de 1980, o desenvolvimento de métodos de fabricação mais baratos e software de código aberto contribuiu para uma revolução na impressão 3D nas últimas duas décadas. Hoje, as impressoras 3D estão sendo usadas para imprimir peças de reposição, casas inteiras, remédios, membros biônicos e até órgãos humanos inteiros.

Amazon Kindle: em novembro de 2007, a Amazon lançou o Kindle. Desde então, uma infinidade de leitores eletrônicos mudou a maneira como milhões de pessoas leem. Graças aos leitores eletrônicos, as pessoas não precisam carregar pilhas de livros, e autores independentes podem levar suas obras a milhões sem passar por uma editora.

Pesquisa com células-tronco: As células-tronco (ou seja, células básicas que podem se tornar quase qualquer tipo de célula no corpo) estão sendo usadas para cultivar, entre outras coisas, células de rins, pulmões, cérebros e corações. Essa tecnologia provavelmente salvará milhões de vidas nas próximas décadas, pois significa que os pacientes não terão mais que esperar pelos órgãos de doadores ou tomar remédios agressivos para tratar suas doenças.

Foguetes reutilizáveis: em novembro e dezembro de 2015, duas empresas privadas, a Blue Origin (fundada por Jeff Bezos) e a SpaceX (de Elon Musk), pousaram com sucesso foguetes reutilizáveis. Esse desenvolvimento reduz muito o custo de chegar ao espaço e aproxima as viagens espaciais comerciais da realidade.

Edição de genes: em 2012, pesquisadores da Universidade de Harvard, da Universidade da Califórnia em Berkeley e do Broad Institute desenvolveram independentemente uma técnica conhecida como CRISPR. Ela pode ser usada como uma ferramenta de edição de genes para alterar o DNA de um organismo. Ao cortar pedaços de DNA prejudicial, a tecnologia de edição de genes provavelmente mudará o futuro da medicina e poderá eventualmente erradicar algumas das principais doenças.

Gazeta do Povo

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A ética politizada do PT - A história recente da patifaria no Brasil


Lucas Gandolfe

A falta do senso das proporções é exatamente o mesmo que falta de inteligência moral.

O Movimento pela Ética na Política de 1992 nasceu de um grupo de pessoas, que se reunia na UFRJ. Eram sindicalistas, universitários, militantes de partidos, pessoal das ONGs e dos direitos humanos. Dando “nome aos bois”, tínhamos desde ex-Presidente da OAB até Lula, Herbert de Souza (o Betinho), Marilena Chaui, José Dirceu, Genoino, Frei Betto, tutti quanti. Mas quem realmente coordenou o processo que culminou no impeachment de Fernando Collor foi o PT.

A “Campanha pela Ética”, liderada pelo PT, dava a genérica impressão de estar lutando pela “ética” no sentido geral e corrente, isto é, pelo bem e pela decência, combatendo todo e qualquer elemento corrupto na administração pública, firmando-se como paladino da honestidade nacional. As provas de corrupção no governo de Fernando Collor, suscitando fartas demonstrações de indignação moral, tornou a ficção do Movimento verossímil, permitindo que o moralismo atávico dos brasileiros fosse imediatamente canalizado para o colo da esquerda.

Mas será que o ilustre Partido dos Trabalhadores, cujos principais membros encontram-se atualmente condenados pela Justiça por inúmeros crimes, estava mesmo defendendo a “ética” relacionada à honestidade, moralidade, etc.? Evidentemente que não. Eles defendiam o “Estado Ético”, nada mais, politizando a “ética” e colocando à luta de classes acima do bem e do mal, o que, num futuro bem próximo, inverteria totalmente aquilo que pregavam.

Bem, a partir desse Movimento, o PT assumiu o papel de representante da probidade pública e social, impulsionando cada vez mais a campanha pela “ética” e “cidadania”, ascendendo, assim, à condição quase sacerdotal de condutor moral da nação.

No fim, toda a farsa da “ética” terminou por ser usada como instrumento para a “longa viagem da esquerda - do PT, para dentro do aparelho de Estado”. Pois bem, e depois? A ética foi finalmente implantada no Brasil, expurgando os “ratos que roem nossa bandeira nacional” e vivemos felizes para sempre? Como desgraça pouca é bobagem, descobrimos que, frente ao que estava porvir, o Brasil até que era bem ético.

Desde janeiro de 2003 a gestão petista e seus asseclas conviveram e apoiaram casos de corrupção no Brasil, que, resumidamente, totalizam 4.880 dias de escândalos, somando mais de R$ 47 bilhões. Da posse de Lula ao afastamento de Dilma, em maio de 2016, os escândalos políticos e casos de corrupção sempre estiveram presentes.

Logo nos primeiros seis meses de gestão, o PT enfrentou a CPI do Banestado que envolvia dinheiro enviado ilegalmente para paraísos fiscais. Na época, o deputado José Mentor foi acusado de sabotar a CPI para proteger os petistas. Também em junho de 2003 veio à tona o esquema de corrupção no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) com desvio de R$ 32,3 milhões de recursos destinados à construção de estradas. O alvo das denúncias foi o ministro dos Transportes, Anderson Adauto.

Ainda em 2003, agora em setembro, outro escândalo. A ministra de Lula na Secretaria de Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, usou recursos públicos para custear passagens e hospedagens para Argentina e Nova Iorque, em compromissos pessoais. Ao todo, foram R$ 19 mil.

No início de 2004 surgiram as primeiras evidências do esquema do mensalão, maior escândalo do primeiro mandato de Lula. O mensalão era a propina que o governo pagava, com dinheiro público, a parlamentares para votar a favor das propostas petistas no Congresso. Segundo o STF, o articulador do mensalão foi José Dirceu, ministro da Casa Civil de Lula.

Em 2005, no mês de julho, tivemos outros grandes escândalos, agora envolvendo o ministro Romero Jucá (Previdência) que fez empréstimos de R$ 18 milhões de bancos públicos usando como garantia sete fazendas que não existiam. Na mesma época, estourou o esquema de corrupção apurado na CPI dos Bingos, que detectou um desvio superior a R$ 7 milhões de dinheiro público para políticos e empresários.

Para finalizar o primeiro mandato de Lula e da esquerda no poder, tivemos em 2006 o caso de corrupção de Luis Gushiken, ministro de Comunicações, com respingos do mensalão e também da CPI que investigou o desvio de R$ 11 milhões nos fundos de pensões de funcionários públicos.

A cenoura de burro das esperanças moralizantes da década de 90, que simulava “passar o Brasil a limpo”, mostrou-se um verdadeiro “Cavalo de Tróia”, cuja única preocupação era tomar o poder e fazer crescer o “Novo Príncipe” (ou o Partido, para Antônio Gramsci) por todos os meios amorais, imorais, mentirosos, cínicos, corruptos possíveis. Mas uma grande parcela do povo brasileiro resolveu validar, pelo voto, todos os escândalos petistas, reelegendo Lula. O inverossímil aconteceu!

Previsivelmente, em 2007, Lula iniciou o seu segundo mandato, após a reeleição, com novas suspeitas de corrupção. Na pasta do Trabalho, sob o comando do aliado Carlos Lupi, foi descoberta uma fraude envolvendo ONGs e fundos destinados a programas para desempregados que somaram R$ 18 milhões em desvios.

No ano de 2008, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, teve que deixar o cargo depois que descobriram gastos indevidos com cartões corporativos do governo no valor de R$ 171 mil. A denúncia levou a investigações de outras despesas ilegais do alto escalão petista.

Para serem beneficiadas com incentivos fiscais, em 2009, montadoras pagaram até R$ 36 milhões em propinas para o governo petista editar a medida provisória número 471. O esquema gerou um prejuízo de R$ 1,3 bilhões em impostos.

Bem, como diz o ditado popular “errar uma vez é humano, duas é burrice, na terceira você não tem vergonha na cara”. Mesmo frente aos escabrosos e contínuos escândalos de corrupção, julgados ao vivo e a cores, com larga divulgação pelos meios de comunicação, uma parcela de brasileiros manteve o PT no poder. Para mim, isso não só significou validar o que passou, mas também, implicitamente, autorizar sua continuidade.

E foi isso que Dilma Rousseff fez. Em 2013, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, foi acusado de envolvimento em fraudes de licitações que chegaram a R$ 1 bilhão. O dinheiro foi enviado para empresas que financiaram a campanha do PT. O final da história nós já conhecemos, a “Lava Jato” desnudou o rei petista e mandou para a cadeia toda a companheirada, responsável pelo maior esquema de corrupção e manutenção de poder da história brasileira, tornando-nos oficialmente uma cleptocracia.

O PT corrompeu com a autoridade moral de quem, ao arrogar-se os méritos de um futuro hipotético, já está absolvido de todos os delitos do presente; roubou com a tranquilidade e o destemor de quem pode usar licitamente de todos os meios, já que é o senhor absoluto de todos os fins. É o Partido Ético, sempre exaltado e defendido por uma parcela de brasileiros. A verdade se transformou em mentira e a mentira em verdade.

O sucesso da revolução cultural do PT foi tão avassalador que - mesmo cientes de toda mentira, corrupção e imoralidade praticada pela esquerda -, a parcela de brasileiros apoiadora dessa aberração política passa de sua cegueira voluntária a sacerdote da “ética na política” para acusar e julgar seus opositores, equiparando “rachadinhas” de gabinete com a corrupção da própria democracia e implantação de uma hegemonia totalitária. Porca miséria!